Dono da marca de açúcar Alto Alegre, uma das líderes no varejo da região Sul do país, o grupo sucroalcooleiro Lincoln Junqueira é do tempo em que o bagaço da cana era um problema a ser administrado dentro das usinas. Uma boa caldeira era aquela que usava o máximo possível de bagaço para gerar eletricidade.
Com 37 safras completadas em 2014/15 – exercício que, para o grupo, terminou em 30 de abril, o Lincoln Junqueira percebeu com os racionamentos de energia no país, iniciados ainda na era FHC, que o bagaço não era mais um problema, mas uma solução.
Esse é, há cinco anos, o principal foco dos investimentos do grupo. Nesta safra 2015/16, conforme informações fornecidas pela empresa, haverá uma “pausa” nesses aportes. Mas a ideia é retomá-los no ciclo 2016/17, com o objetivo de ampliar a eficiência das caldeiras instaladas em suas cinco usinas.
Na temporada em curso, o grupo planeja cogerar 600 mil megawatts-hora (MWh), com os quais projeta faturar R$ 190 milhões. Mas, em meio aos números e siglas que permeiam o mercado de eletricidade, o que importa neste momento, conforme a empresa, é que suas cinco unidades de cogeração terão uma produtividade média de 39 quilowatts (KW) por tonelada processada.
Ainda é um índice que precisa ser melhorado, uma vez que os mais eficientes do mercado chegam a 55 KW por tonelada. Mas já representa um aumento de 22% em relação à temporada passada (2014/15), quando o grupo “exportou” (vendeu) 480 mil MWh, com uma produtividade média de 32 KW por tonelada.
Em 2014/15, o Lincoln Junqueira investiu, no total, R$ 659 milhões. Cerca de R$ 400 milhões foram destinados à manutenção de canaviais, e o restante para a compra de novos equipamentos – parte voltada à mecanização das lavouras, parte à modernização do parque cogerador.
Mas o plano para 2015/16 é manter os investimentos apenas em manutenção, dos canaviais e das indústrias, de forma que o total não deverá superar R$ 500 milhões, de acordo com a companhia. A desaceleração se deve à piora das condições gerais de captação de recursos de longo prazo no país.
Até então, todos os investimentos realizados tiveram como fonte principal recursos captados no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que representaram 90% do total investido, com prazos de amortização de dez anos.
Atualmente, 76% do endividamento bancário da empresa, de R$ 2,765 bilhões, têm vencimento no longo prazo e com custo médio, em reais, de 6% ao ano. A empresa também tem entre seus passivos recursos advindos de crédito rural e de linhas de financiamentos de exportações, em moeda estrangeira.
Foi esse passivo em dólar que fez com que, em 30 de abril deste ano, o grupo apresentasse um endividamento R$ 400 milhões mais elevado que um ano antes. Afetou o resultado financeiro líquido no exercício 2014/15, que foi negativo em R$ 531,9 milhões, ante a perda de R$ 149,4 milhões de 2013/14. Com isso, a última linha do balanço no exercício fiscal 2014/15 mostrou um prejuízo líquido de R$ 137,2 milhões (atribuído a acionistas controladores), ante o lucro líquido de R$ 87,9 milhões de 2013/14.
A empresa ressalta, entretanto, que todos os efeitos da valorização do dólar – de 35% entre um ano-fiscal e o outro – foram contábeis, sem efeito em seu caixa. O que gerou desembolso foi o pagamento de juros: ao todo, foram pagos no ano-fiscal 2014/15 R$ 8,9 milhões. O montante é o saldo entre o juro recebido das aplicações financeiras da companhia, que superam R$ 1 bilhão, e o juro pago de empréstimos.
Ao mesmo tempo em que planeja retomar na safra 2016/17 os aportes mais relevantes em cogeração, o grupo Lincoln Junqueira estabeleceu como meta reduzir suas métricas de alavancagem. Em 30 de abril deste ano, sua dívida líquida equivalia a 2,3 vezes seu Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de 2014/15, que foi de R$ 604 milhões. O objetivo é levar essa alavancagem para 1,5 vez.
A companhia também dá outras razões para, em 2015/16, ir mais devagar com os investimentos em cogeração. Os preços da eletricidade voltaram a cair, com o recuo da demanda e com alguma recuperação das chuvas no primeiro semestre do ano. Mas, apesar da insegurança no curto prazo, a convicção da empresa nos fundamentos positivos de longo prazo da cogeração estão mantidos.
Fonte: (Valor)