No geral, a produtividade agrícola canavieira registra baixa atrás de baixa. Apenas nas últimas cinco safras, as perdas anuais foram de 10 toneladas na média do Centro-Sul. A projeção é da consultoria Canaplan, para quem a média ficou em 73 toneladas de cana por hectare (TCH) na temporada 2018/19.
As perdas refletem a crise vivenciada pelas usinas. E o problema deve persistir na safra 19/20. Mas há produtores de cana-de-açúcar com resultados positivos que enchem de orgulho o setor sucroenergético.
Conta-se nos dedos quem são esses agricultores de toda a região Centro-Sul. Entre eles estão Azael Pizzolato Júnior e Azael Pizzolato Neto.
Respectivamente pai e filho, eles são chamados de líderes em produtividade canavieira.
Os canaviais dos Pizzolato esbanjam resultados invejáveis. Há seis safras a produtividade está acima de três dígitos.
O resultado, no entanto, é obtido com longevidade acima dos padrões. A idade média ponderada do canavial na safra 19/20 é de 4,7 cortes, o que se pode concluir que este canavial supera a longevidade de 9 cortes.
Esse desempenho reflete o afinco nos investimentos em cana-de-açúcar.
O planejamento começa no escritório da Ipê Agrícola Ltda., empresa da família localizada no centro de Jaboticabal.
Pai, filho e colaboradores detalham diariamente a dinâmica da gestão de cada um dos 2,3 mil hectares do grupo, espalhados por três polos localizados nas regiões de Jaboticabal, Taquaritinga e de Araraquara.
A gestão inclui também estar praticamente 24 horas no campo, seja para trabalhar com as frentes de colheita (CTT), seja para avaliar a aplicação dos tratos culturais.
Tanta dedicação é coberta de motivos. Afinal de contas, os líderes de produtividade atendem a Unidade Bonfim da Raízen, em Araraquara, como fornecedores, respondendo em 100% das operações canavieiras. E atentem também a Usina Pitangueiras, em Pitangueiras, para quem só não realizam o CTT.
Vez da sucessão
Além de esbanjar produtividade agrícola, Azael Pizzolato Júnior conduz com primazia a sucessão da Ipê Agrícola.
Aos 51 anos, é pai de dois filhos: Azael Pizzolato Neto e Pedro Sitta Pizzolato, administrador de empresas radicado em São Paulo. E prepara-se para passar o bastão das operações para o primeiro.
“Nos próximos dois anos ele deverá assumir a gestão”, destaca Azael Júnior, que pretende seguir na área estratégica e de relacionamento e na direção de outra empresa, uma incorporadora.
Aos 29 anos, Neto está talhado para suceder o pai. Formado em agronomia pela ESALQ, cursou o programa US Business Practices Program pela The Ohio State University – Fisher College of Business (Columbus – OH – EUA), trabalhou na produção de sementes, no setor de petróleo e gás e no desenvolvimento de novas tecnologias para agricultura.
O retorno foi quase uma década depois de iniciar a graduação e a carreira longe da propriedade agrícola da família, na qual começou a atuar com oito anos de idade. “No fundo sempre quis voltar”, revela.
Desde 2016 criou, com dois amigos, empresa em Jaboticabal para plantar soja durante a reforma de áreas canavieiras, atividade já exercida pelo pai.
E desde 2018 está na direção da companhia familiar, sem deixar o trabalho na empresa de plantio.
A colheita de resultados não parou. Em maio deste ano, Azael Neto ganhou o troféu de 1o lugar do disputado Desafio Cultivar, promovido com sucessores pelo Programa Cultivar, da Raízen. O produtor venceu em votação aberta com o projeto da equipe Cultivares.
Agora ensaia a sucessão do pai, mas trabalhando junto com ele. “Prefiro chamar de parceria de família, temos o DNA agrícola no sangue”, afirma.
As estratégias da gestão agrícola
Os Pizzolato não economizam na gestão agrícola.
A renovação média do canavial é de 5% e não houve reforma nos últimos dois anos.
E na renovação do canavial fazem a rotação de cultura em 100% das áreas com soja ou amendoim. Na última safra plantaram mais de 2.000 ha de soja.
“Apesar dos boletins e literaturas recomendarem a calagem para elevar a saturação por bases a 60%, nós utilizamos como padrão 80%, pois apesar da cultura ser considerada rústica, nós a consideramos muito responsiva”, destaca Azael Pizzolato Júnior.
A implantação dos novos canaviais é 100% feita por meio de mudas pré-brotadas (MPB) com meiosi. “É uma prática que realizamos há quatro anos”, emenda o produtor.
No trato da soca a Ipê emprega estratégia própria. Trata-se do uso de calcário e de gesso alternados.
Em um dos cortes, por exemplo, é aplicado calcário e no outro aplicado o gesso, ambos a uma taxa fixa de 1 ton/ha. Essa técnica segue até a exaustão do canavial, que na Ipê chega a 10 cortes.
Não é só. Azael Júnior e Azael Neto adotaram por prática que o canavial vai para reforma caso o TCH fique abaixo de 85. Após dois anos sem reformas, estão estudando a viabilidade de aumentar este limite para 90.
Os investimentos médios por reforma são de R$ 7 mil por hectare e de tratos de cana soca superam os R$ 3 mil. “O resultado compensa”, afirma Azael Júnior.
O replantio de soqueira é outra estratégia da Ipê em nome da longevidade.
“Se notamos um canavial sadio, com potencial e algumas falhas, optamos por sua revitalização, onde falhas acima de 1,5 metro são preenchidas com MPB”, diz o empresário. “É o nosso projeto Falha Zero, que rende longevidade com produtividade.”
Outra estratégia está nos tratos culturais. “Empregamos apenas adubo de alta tecnologia com micronutrientes, fazemos monitoramento e controle de pragas em 100% da área, com algumas aplicações calendarizadas e outras sob avaliação”, relata Azael Neto.
“Fora esse tratamento de manejo de pragas e adubação, fazemos duas aplicações de fungicida”,
emenda.
Com o uso de nutrição foliar de cinco anos para cá. o resultado foi o salto de produtividade. “Utilizamos a tecnologia foliar da Ubyfol em 100% de nossas áreas, com quem de início foi feito um contrato de risco”, lembra o ‘pai’ Azael. “Se a diferença em TCH não fosse cumprida, deixaríamos de pagar. Mas deu tão certo que desde então temos um contrato de longo prazo.”