O governo já considera que o leilão de energia emergencial, que busca garantir preços mais baixos para as distribuidoras, não conseguirá suprir toda a demanda das empresas.
Ontem, o presidente da EPE (Empresa de Pesquisa Energética), Maurício Tolmasquim, disse à Folha que a oferta de energia pelas usinas no pregão não será suficiente, pois algumas geradoras podem preferir negociar essa energia de forma mais rentável no curto prazo.
“Não acredito que vá atender tudo”, disse Tolmasquim. “O leilão vai atender só uma parte do que precisa, mas o que importa é que o tanto contratado irá diminuir o custo para as distribuidoras e necessidade de recursos.”
O governo anunciou ontem que o pregão foi adiado por cinco dias — será realizado no próximo dia 30– para dar mais tempo para a preparação de documentos pelas usinas interessadas.
No Ministério da Fazenda, contas preliminares indicam que o rombo no setor elétrico neste ano será de R$ 24 bilhões. Desse total, esperava-se que R$ 12 bilhões fossem cobertos pelo leilão.
O restante seria dividido entre Tesouro Nacional (R$ 4 bilhões) e empréstimos bancários (R$ 8 bilhões), feitos por intermédio da CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica).
Agora, o próprio governo começa a reavaliar a receita do leilão, o que pode implicar aumento na necessidade de financiamento da CCEE na mesma proporção.
A possibilidade de vender no curto prazo a um preço melhor é também o argumento usado pelo setor para pressionar o governo a elevar o preço-teto, ainda não definido, da energia a ser leiloada no dia 30.
No certame mais recente, em 2013, o valor ficou próximo a R$ 200 por megawatt.
O valor foi considerado baixo e o resultado foi uma participação tímida das geradoras.
Para o presidente da EPE, “o que está se propondo é uma oportunidade: o gerador deixa de vender no mercado spot [imediato] e vende no médio prazo, contrato de cinco anos. Ele ganha menos agora e mais depois”.
Ajuda
Apesar do adiamento na data do leilão, a entrega da energia continua prevista para 1º de maio, conforme regra anterior.
Chamado pelo governo de “leilão A” ou “leilão de energia existente”, ele deveria garantir a possibilidade de as distribuidoras contratarem os cerca de 3.200 megawatts de que precisam para atender a demanda atual.
Caso não consigam contratar toda essa energia, as empresas terão de continuar recorrendo ao mercado de curto prazo. O problema é o preço. Por causa da falta de chuvas e do maior uso de usinas térmicas, esses contratos chegaram ao valor-teto, R$ 822 por megawatt.
O sucesso do leilão é o que vai determinar o tamanho da dívida das distribuidoras com a compra de energia e o tamanho da ajuda que o governo terá de oferecer.
Em janeiro, o gasto das distribuidoras com a energia cara produzida pelas usinas térmicas foi de R$ 1,2 bilhão. Em fevereiro, estima-se que a conta ficará em R$ 4 bilhões.
Os empréstimos tomados pela CCEE serão repassados às contas de luz dos consumidores em 2015 e 2016.
Fonte: Folha de S. Paulo