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Koblitz avalia programa de Lula para o setor energético

“O programa de energia de Lula coincide com a nossa visão, no que diz respeito à dificuldade futura de investimentos nas grandes termelétricas movidas a gás natural, que viria em grande parte da Bolívia e cotado em dólar.” A afirmação é do presidente de uma das mais respeitadas empresas do mercado energético do País, a Koblitz. Luiz Otávio Koblitz acredita que a alta tarifa das termelétricas, hoje em torno de R$ 120,00 por MW/h, fará com que o governo repense a questão das fontes de energia e diminua as importações, regulando a liberdade que existe no setor. Por isso, o empresário acha coerente a proposta do PT de investir no potencial hidrelétrico do País.

O Brasil possui, no momento, cerca de 5 mil MW instalados em usinas que utilizam o gás natural para geração de energia. “Se a decisão de fazer termelétricas a gás natural tivesse sido tomada agora, quando todos enfrentam um alto custo de produção de energia e balanço de pagamento, provavelmente nem o governo nem quem investiu apostaria mais”, diz Luiz Otávio. Para ele, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva voltará a investir nas grandes operadoras de energia da Eletrobrás, como Furnas, Chesf, Eletronorte e Eletrosul.

O Brasil já possui quatro usinas a carvão, no Rio grande do Sul, Santa Catarina e Rio de Janeiro. Considerando a má qualidade do carvão nacional e a impropriedade de se importar carvão de boa qualidade, a Koblitz acredita que essa fonte fornecerá apenas pequenas novas contribuições, considerando-se o alto custo de energia, a balança comercial e o impacto ambiental desse tipo de usina.

São duas as usinas nucleares que funcionam no Brasil, localizadas em Angra dos Reis. Uma terceira é projetada para o mesmo local, com alguns equipamentos já comprados, mas ainda se discute a continuidade de sua construção. Alguns setores do PT defendem a construção de Angra III. Existe, portanto, essa possibilidade. Porém, a exemplo do carvão, será uma pequena contribuição para as novas necessidades energéticas.

No cenário energético do País, 77% da geração é estatal, enquanto na área de distribuição esse número cai para 22%. A coordenadora para a área de infra-estrutura da equipe de transição do novo governo, Dra. Dilma Rousseff, entende que a principal fonte da energia necessária ao crescimento do setor será a hidroeletricidade.

A Eletrobrás, que é grande geradora nacional e tem a maior parte do parque hidroelétrico existente amortizado, aumentará a cada ano, a partir de 2003, o preço de 25% da energia fornecida. Ela passará dos atuais R$ 40,00 MW/h para, pelo menos, R$ 70,00 MW/h. Com o caixa reforçado, a estatal poderá, provavelmente, em parceria com a iniciativa privada, alavancar projetos hidroelétricos necessários à continuidade do desenvolvimento em, no mínimo, 65% das novas necessidades.

Programa deve incentivar geração distribuída

Segundo o presidente da Koblitz, Luiz Otávio Koblitz, o Brasil precisará acrescentar em dez anos, aproximadamente, 40 mil MW aos cerca de 76 mil MW existentes. Ou seja, ele terá de gerar mais 50% da energia produzida atualmente. “O próximo governo precisará regular o mercado, limitando os empresários e traçando a diretriz de onde e para onde se irá crescer”, opina.

A geração distribuída poderá ser responsável por até 30% das novas necessidades do setor elétrico. A grande vantagem é que, por ser a geração de pequeno porte e distribuída [S1] (até 30 MW), o sistema elétrico terá ganhos na transmissão e distribuição, em que atualmente se investe 50% de todos os recursos do setor elétrico. A geração distribuída, portanto, produzirá enormes custos evitados, eliminando e/ou postergando investimentos, podendo contribuir com 12 mil MW nos próximos dez anos.

São cinco as principais fontes da geração distribuída. Uma delas é a co-geração com gás natural ou óleo combustível. Embora essa fonte não seja renovável, ela é distribuída e possui vantagens econômicas e ambientais, por ser a cogeração muito mais eficiente que a geração representada, atualmente, pelas grandes usinas a gás natural em ciclo combinado.

O Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica do Governo Federal (PROINFA) contempla três fontes renováveis de energia: biomassa, pequenas centrais hidroelétricas (PCHs) e energia eólica. A biomassa e as PCHs podem ser largamente desenvolvidas com cerca de 15% a mais no valor da tarifa competitiva, enquanto a energia eólica necessita de, no mínimo, mais 80% desse valor. Por esse motivo, Luiz Otávio acredita no grande crescimento da biomassa e das PCHs, uma vez que o sobrepreço tarifário é menor. Ele ressalta ainda que, a rigor, não se trata de um subsídio, considerando-se os ganhos de custo evitado na construção da transmissão e distribuição que esse tipo de geração fornece, além dos ganhos ambientais, por ser renovável.

Segundo o empresário, por ser mais cara que a eólica, a energia solar não deverá ser utilizada em larga escala, limitando-se apenas a resolver o problema de pequenas comunidades mais afastadas. Na realidade, a energia solar deverá ser usada no aquecimento direto de água nas residências por conta do baixo custo do processo, evitando o consumo de energia nos chuveiros elétricos que, hoje, representam 7% de toda a energia do País. Luiz Otávio revela seu otimismo com relação às novas políticas que deverão ser incrementadas no governo Lula e considera que a equipe começou o trabalho com o pé direito, tendo como coordenadora da transição a Dra. Dilma Vana Rousseff.

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