CanaVialis aguarda confirmação do pedido para enviar sementes de elevado potencial. Os plantadores de cana do Japão poderão ser os primeiros clientes internacionais da CanaVialis, uma empresa de biotecnologia agrícola da área de Novos Negócios do Grupo Votorantim. O primeiro contato já foi feito e os pesquisadores da CanaVialis só aguardam o detalhamento do pedido para enviar sementes para serem cultivadas no sul do Japão, onde são mantidas pequenas lavouras para produção de açúcar. Os produtores japoneses, segundo o pesquisador Hideto Arizono, desejam obter variedades que proporcionem alto teor de sacarose e baixo volume de fibras. “É o que todo plantador de cana deseja, já que plantas exuberantes, de grande porte, apenas elevam os custos para o corte e o transporte, sem o correspondente rendimento em açúcar ou álcool”, diz o pesquisador.
A Canavialis também fechou contrato de prestação de serviços e fornecimento de material genético com cinco grandes usinas do Paraná. A empresa faz os primeiros contatos com usinas do Centro-Oeste, onde, como ocorreu no Paraná, serão instaladas estações experimentais para o desenvolvimento de plantas perfeitamente adaptadas às condições de clima e às necessidades da região. Além de oferecer material genético, a empresa também se propõe prestar serviços, como tratamento fitossanitário, essencial para garantir bom rendimento nas lavouras.
A cada corte de cana, a planta é exposta à contaminação por bactérias que comprometem a produtividade das lavouras. A CanaVialis, por meio de um contrato de prestação de serviços, se prontifica a fornecer mudas tratadas para a renovação da lavoura, explica Sizuo Matsuoka. As lavouras de cana têm de ser renovadas a cada seis ou sete cortes. Ao longo desse processo, a contaminação pela ação de instrumentos cortantes se intensifica, o que pode reduzir a produtividade das lavouras em até 50%. Ao promover a renovação das lavouras, os plantadores podem perpetuar essa contaminação, comprometendo a eficiência da produção.
História da pesquisa
Matsuoka e Arizono são responsáveis pelo desenvolvimento da família de variedades de cana denominadas RB (República do Brasil). A RB é resultado de estudos custeados pelo antigo Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA), extinto em 1990. Os dois pesquisadores foram então transferidos para a Universidade de São Carlos.
A história profissional de Matsuoka e Arizono se confunde com a história da tecnologia da cultura da cana-de-açúcar no Brasil. Cerca de 40% das variedades cultivadas no País são da família de plantas desenvolvidas por esses dois estudiosos. Para obter esse resultado, Matsuoka e Arizono combinaram materiais genéticos entre 1972 e 1985. Desde então, os professores enfrentaram os efeitos da falta de recursos, o que se refletiu no andamento dos seus trabalhos.
Aposta no futuro
Certos de que o conhecimento científico dos dois pesquisadores (que estavam prestes a se aposentar) pode render bons resultados financeiros, a diretoria da Votorantim Novos Negócios decidiu criar as condições ideais para que pudessem levar adiante seus trabalhos. Para isso, foi instalada uma estação de cruzamento em Maceió e uma biofábrica em Campinas. Para alcançar esses objetivos, a Votorantim fez um aporte de capital na CanaVialis de R$ 300 milhões. A empresa foi criada em 2000.
“Estamos executando o trabalho que sempre sonhamos”, afirmou Arizono. Para ele, a CanaVialis terá um importante papel a cumprir com o desenvolvimento tecnológico das atividades sucroalcooleiras.
Matsuoka acredita que a comercialização de materiais genéticos no exterior deverá contribuir para a disseminação da produção de açúcar e álcool em escala mundial. “O Brasil precisa de concorrência internacional para o álcool para a comercialização em larga escala”. Segundo a firma, o fornecimento do combustível só será confiável se puder ser fornecido por mais de um país. Caso contrário, a evolução da demanda pelo produto deverá ser lenta.