
Durante o Cana Summit 2025, encerrado na quinta-feira, dia 3, o Diretor Executivo da ISO (International Sugar Organization), José Orive, trouxe à tona importantes reflexões sobre o cenário global do açúcar e o impacto potencial das tarifas impostas pelos Estados Unidos.
Em entrevista a Josias Messias do JornalCana, Orive destacou que o mercado internacional do açúcar enfrenta um déficit histórico não visto há uma década, o que normalmente levaria a um aumento nos preços globais.
Déficit histórico e aumento no consumo
Segundo Orive, o déficit no mercado internacional pode atingir rapidamente 5 milhões de toneladas. Essa situação, que em condições normais impulsionaria a elevação dos preços, até o momento não provocou uma reação imediata no mercado mundial.
“Temos um déficit marcado, e o consumo de açúcar está em ascensão – um cenário que se intensificou após os impactos da pandemia do Covid, quando a “guerra contra o açúcar” reduziu os níveis de consumo”, explicou Orive.
Ele ressaltou que, antes do Covid, o consumo estava em torno de 1,2%, mas agora projeta-se que alcance 180 milhões de toneladas, representando um incremento de 2,2%. O crescimento é particularmente notório em regiões como a África, que registrou uma expansão de 4,1%, evidenciando o potencial do mercado global.
O impacto das tarifas dos Estados Unidos
Outro ponto de relevância abordado foi o recente anúncio do presidente dos Estados Unidos sobre medidas tarifárias, que afetam principalmente países da Ásia, zona de influência da China. Orive explicou que, embora a Casa Branca tenha especificado medidas para setores como chips, semicondutores e eletrônicos, o setor açucareiro tem uma dinâmica diferente.
“No caso do Brasil, por exemplo, tanto nós quanto outros países, como a Guatemala, temos uma quota de mercado estabelecida pela Organização Mundial do Comércio. Essa quota dificilmente pode ser alterada unilateralmente por medidas tarifárias”, destacou.
Orive também apontou para a possibilidade de negociações bilaterais entre os Estados Unidos e o Brasil, mencionando temas como o etanol e o imposto de 18%.
“Há uma tática de negociação em jogo. A medida tarifária pode ser vista como uma tentativa dos EUA de colocar seus parceiros comerciais em desvantagem para, na hora de negociar, recuperar concessões”, afirmou, enfatizando que os detalhes ainda serão observados com cautela.
Confira a íntegra da entrevista abaixo: