Depois de ceder por três meses consecutivos, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) voltou a acelerar em maio: ficou em 0,51%. A taxa é 0,14 ponto percentual maior do que a de abril (0,37%), segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Em 12 meses, porém, o índice permanece no centro da meta do Banco Central para este ano, de 5,5% -há um intervalo de 2,5 pontos para cima ou para baixo. O índice acumulado ficou em 5,15%, o menor desde julho de 1999, quando havia sido de 4,57%.
Embora a inflação tenha aumentado, o IBGE diz que os aumentos estão concentrados em poucos itens e que não há sinais de repasse de custos provocado pela recente alta do dólar. De acordo com Eulina Nunes dos Santos, gerente de Índices de Preços do IBGE, a inflação cresceu por causa de algumas altas “localizadas”, e a pressão do câmbio “ainda não é visível”.
Em maio, puxaram a inflação para cima os aumentos de remédios (2,33%, com impacto de 0,10 ponto percentual), alimentos (0,23%, com contribuição de 0,05 ponto) e energia elétrica (1,29%, com peso de 0,06 ponto). Também pressionaram a taxa o álcool, que subiu 2,28% (impacto de 0,02 ponto), e os veículos novos (alta de 1,10%) e usados (1,44%). Somados os dois itens, os carros contribuíram com 0,06 ponto percentual do IPCA de maio.
No caso dos alimentos, o clima mais frio neste ano e o excesso de chuvas são os motivos dos reajustes, que foram percebidos principalmente em produtos como tomate (19,03%), cebola (18,75%) e batata (11,69%).
Segundo Carlos Thadeu de Freitas Filho, economista do Grupo de Conjuntura da UFRJ, a variação dos alimentos foi “surpreendentemente” baixa, a julgar pelo comportamento de outros índices, que apontaram aumentos maiores.
Na visão dele, os alimentos devem permanecer em alta nos próximos três meses. “Essa pressão, aliada à possibilidade de reajuste dos combustíveis e ao aumento dos preços no atacado, afasta a perspectiva de redução dos juros”, disse.
Alexandre SAntanna, da administradora de recursos ARX Capital, concorda que não há mais espaço para baixar os juros, mas aponta outro motivo: o cenário internacional, a principal preocupação identificada pelo BC. “Só quando o Fed decidir o rumo dos juros nos EUA é que voltará a cortar a Selic aqui”, afirmou.
Apesar de mais alto, o resultado do IPCA agradou a SAntanna. Isso porque, diz ele, revelou que a “inflação está mais concentrada” e que os aumentos são “sazonais”. Em seu relatório, a consultoria LCA afirmou que a alta do IPCA “era esperada” e será “transitória”, em razão de aumentos sazonais como o de alimentos.
Prova de que a inflação está sob controle é que os núcleos do IPCA estão praticamente estáveis e menos produtos subiram de preço. Cálculos da ARX revelam que o núcleo pelo critério de médias aparadas (desconta os 20% que mais subiram e os 20% que mais caíram) sem suavização (não dilui as tarifas em 12 meses) ficou em 0,43%, contra 0,45% de abril. Segundo a ARX, dos 512 itens do IPCA, 60,9% tiveram variação positiva. É menos do que em abril (65,2%).
Palocci
O ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, afirmou que o IPCA de maio ficou dentro do previsto e se disse “otimista” com o comportamento da inflação. Segundo ele, o IPCA do mês passado veio “em linha” com as expectativas mais baixas” do mercado financeiro, que projetavam inflação entre 0,50% e 0,70%.
Palocci também disse que a meta de inflação deste ano, de 5,5%, não foi abandonada pelo Banco Central e que não será alterada. Na reunião do CMN (Conselho Monetário Nacional) deste mês será definida a meta de inflação para 2006. Apesar de Palocci ser contra, há pressões no governo para alterar a meta de inflação de 2005, hoje em 4,5% ao ano.
Pesquisa do Banco Central divulgada na segunda mostrou, pela quarta vez consecutiva, elevação das projeções do mercado para a inflação do ano. As estimativas apontaram para IPCA de 6,59% -antes estava em 6,50%.