Mercado

Investimentos de usinas são escassos e priorizam açúcar

Após três anos de investimentos praticamente focados em etanol e motivados pela onda mundial dos biocombustíveis, o setor sucroalcooleiro do Brasil volta a olhar para o açúcar como alvo de investimentos. Não que haja muito recurso e crédito disponíveis em meio à atual crise. Mas os poucos existentes, estão indo prioritariamente para a ampliar a capacidade de produção do adoçante, cujos preços estão nos níveis mais altos dos últimos anos. A Dedini Indústrias de Base, líder na implantação de equipamentos e usinas neste setor, tem hoje em carteira dez projetos em açúcar. No ano passado, não havia nenhum investimento previsto, assim como o interesse também era nulo nos dois anos anteriores. Se forem executados, esses projetos devem incrementar em 1,7 milhão de toneladas a capacidade instalada no Centro-sul (CS) do País.

O volume represen ta aumento de 6,5% em relação ao que o CS produziu na safra 2008/09. Sérgio Barreira, diretor de Açúcar e Álcool da Dedini, pondera que esses projetos estão em fase diferentes de andamento e que devem refletir em aumento somente na safra 2010/11. São projetos em Minas Gerais, Goiás e São Paulo, incluem desde ampliações de usinas já existentes até usinas novas, e encontram-se em fases diferentes, desde a de discussão, até a de implantação. “Temos recebido algumas consultas de usinas por ampliar capacidade em açúcar. Mas, se comparar com a demanda por indústrias de etanol nos últimos três anos, essa procura é pequena”, pondera Barreira.

Ele explica que, por enquanto, a demanda por ampliação da capacidade de produção de açúcar não inclui os grupos que entraram na atividade nos últimos dois anos com projetos exclusivamente alcooleiros. “O açúcar tem como foco o mercado externo e, portanto, exige logística muito boa. Isso deve ser limitante ao crescimento desse produto na região”, explica Barreira.

Além da falta de crédito e do alto nível de endividamento do setor no Brasil, as incertezas sobre as oscilações da produção indiana também inibem mais investimentos. Caracterizada por milhares de produtores, e com renovação praticamente anual do canavial, o setor produtor de açúcar na Índia consegue alterar fortemente sua produção de uma safra para outra.

Na safra 2007/08, por exemplo, a Índia pressionou as cotações internacionais da commodity para níveis abaixo do custo de produção no Brasil com uma super-produção de 26 milhões de toneladas. Com o desestímulo trazido pela queda nas cotações, os indianos voltaram a recuar na safra 2008/09, que termina em setembro, e que deve ficar 8 milhões de toneladas, 18 milhões menor.

Usinas 100% flexíveis

“Por conta disso, a flexibilidade é a palavra chave na decisão de investimento neste produto no Brasil”, avalia Júlio Maria Borges, da JOB Consultoria. O ideal, segundo ele, é que as usinas possam mudar o mix de produção de forma significativa para aproveitar as vantagens de momento para açúcar ou para álcool.

Por isso, a Dedini estuda hoje com cinco usinas projetos de “flexibilidade total”, ou seja, usinas que podem, em determinado momento da safra, produzir 100% açúcar ou 100% álcool. “Para isso, as indústrias têm de aumentar a capacidade industrial, com a mesma quantidade de cana para moagem. Assim, a qualquer momento, a capacidade da usina pode ficar ociosa para direcionar todo caldo para a fabricação do produto com melhor mercado. Essa ociosidade não deve ultrapassar 25%”, explica Barreira.

Somente com o uso da capacidade máxima das usinas para açúcar, o Brasil deve ampliar em 4 milhões a 5 milhões de toneladas a produção do adoçante na safra 2009/10, segundo a JOB Consultoria. O acréscimo significará um crescimento de 12% a 15% em relação a safra 2008/09.

Projetada para produzir mais etanol do que açúcar (60%-40%)-, a usina Equipav, em Promissão (SP), vai na próxima safra destinar o máximo possível de cana para fabricação de açúcar, o que significará um mix de 45% para o adoçante. “A crise de crédito e de preços do álcool minou a capacidade do setor de investir. Mas, no melhor dos cenários, pretendemos investir para aumentar em 50% a produção de açúcar na usina Biopav na safra 2010/11”, afirma Milton Soares, diretor-superintendente da divisão de açúcar e álcool do Grupo Equipav.