Mercado

Investimento em créditos verdes mobiliza o setor bioenergético

Usinas intensificam práticas ESG na busca de certificações que encurtam o acesso a capitais verde e créditos de carbono

Investimento em créditos verdes mobiliza o setor bioenergético

Publicação de 2020 feita por certificadora internacional de títulos verdes em conjunto com o Ministério da Agricultura, aponta que existe no Brasil um grande potencial para exploração das finanças verdes. Segundo a publicação, apenas no setor de cana-de-açúcar, com 1,5 milhão de hectares, são 65 bilhões de reais, com potencial de acesso a capital de 15 bilhões de dólares.

Dentro deste contexto, pesquisa realizada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) aponta que as informações ESG se tornam cada vez mais relevantes para as decisões de investimento dos participantes do mercado de capitais. Conforme a pesquisa, cerca de 64% dos entrevistados responderam que levam em consideração os critérios ESG na escolha dos seus investimentos.

LEIA MAIS > Conhecer a estrutura das plantas daninhas otimiza a aplicação de herbicidas

Com práticas ESG inerentes à atividade bioenergética, as usinas de cana-de-açúcar, têm como desafio comunicar essas ações ao mercado financeiro, abrindo caminho para exploração desse chamado capital verde.

O assunto foi pauta do webinar da última quarta-feira, dia 13, promovido pelo JornalCana como o tema: “ESG NAS USINAS – Oportunidades em capitais verdes e créditos de carbono”.

Com o patrocínio das empresas AxiAgro e S-PAA Soteica, o webinar contou com a participação de Livia Ignacio, Country Manager Brazil da Bonsucro; Mucio Mattos, Sócio e Head de Crédito da Vectis Gestão e Thierry Soret, CFO da Usina Coruripe. O painel virtual foi mediado pelo jornalista do JornalCana, Alessandro Reis.

LEIA MAIS > Descarbonização impulsiona projetos de produção de biogás e biometano

Livia, da Bonsucro

Para Livia Ignacio, da Bonsucro, a certificação é um facilitador para que as usinas possam ter acesso a essas finanças sustentáveis. “Fiz um mapeamento das 20 operações financeiras classificadas como verdes ou sustentáveis com usinas médias de cana-de-açúcar, desde o primeiro empréstimo feito pela Tereos em 2020. Destas 20 operações, 15 das usinas contam com a certificação Bonsucro. Então a certificação teve um papel fundamental em atender os requisitos que essas operações financeiras tinham, de tal forma, que possivelmente foi muito mais fácil para essas usinas acessarem capital e se prepararem para isso quando elas já tinham a certificação na sua operação”, explicou.

Livia explicou também que as usinas certificadas podem ainda se utilizar da plataforma de créditos da Bonsucro, onde elas podem converter essa produção em créditos que podem ser comercializados dentro da plataforma. “Hoje temos 23 empresas que vendem créditos de produtos Bonsucro nesta plataforma e 14 empresas compradoras. Na safra 2020/21 tivemos 43 operações e na 2021/22, 57, um crescimento de 33%”.

LEIA MAIS >Usina Lins obtém Crédito Verde junto ao BTG Pactual

Segundo Livia, a Bonsucro tem ainda o Fundo de Impacto Bonsucro, que destina recursos para projetos do setor sucroenergético. Os recursos deste fundo vem da taxa administrativa que a Bonsucro recolhe pelas operações na plataforma de crédito. O mais recente edital do fundo, prevê a liberação de recursos para dois projetos com foco em direitos humanos e trabalho decente. Serão destinadas 150 mil libras para cada projeto.

Mucio Mattos, da Vectis Gestão

Mucio Mattos, da Vectis Gestão, acredita que ainda estamos só no início do que o agronegócio vai fazer no mercado de capitais. “Hoje os títulos de CRAS e LCA representam 18% do PIB do agronegócio versus 45% da LCI e dos CRIS no mercado imobiliário. E por que tanta diferença entre um e outro? É que boa parte vem por conta da gente até então, não ter tido um veículo que pudesse fazer aí investimentos no setor e que tivesse o benefício tributário também para as pessoas físicas.  Imaginamos que isso irá mudar com advento recente dos Fiagros, que foram criados para canalizar investimentos do setor e trazendo para as pessoas físicas benefício fiscal do Imposto de Renda sobre os rendimentos. Já temos R$ 3,6 bilhões captados ou em processo de captação”, explica.

Aqui no Brasil a gente desde 2015, tem visto o crescimento na emissão de títulos verdes no mercado local. O setor de energia ainda representa uma parcela bastante relevante dessas emissões e a gente espera que o agronegócio cresça bastante, sendo que de 2009 para 2021, houve um aumento exponencial das emissões de títulos verdes.

LEIA MAIS > Tereos conclui novo financiamento atrelado a metas de sustentabilidade no valor de US$ 143 milhões

“O que antes era concentrado em emissões de debêntures, observamos que as emissões de CRA cresceram bastante nos últimos anos. Em 2020 representou ali 176 milhões de dólares e já em 2021 738 milhões, um aumento aí de mais três vezes em relação ao ano anterior e acreditamos que cada vez mais, esses instrumentos verdes vão ser popularizados no mercado e vão ser critérios para os investimentos dos Fundos”, disse.

Com relação ao CBIOs Mucio avalia que o mercado de crédito carbono no Brasil para as usinas já está bem desenvolvido. “A gente vê o preço do CBIO batendo R$ 200 reais por tonelada, praticamente o dobro do preço médio de 2021, por volta de R$ 115 reais”, avaliou.

Thierry Soret, da Usina Coruripe

Durante sua participação, Thierry Soret, CFO da Usina Coruripe, ressaltou que a sustentabilidade é o pilar central do grupo, sendo que 93% das emissões da companhia são de baixo impacto para o meio ambiente. Dando como exemplo, que as fábricas da empresa produzem eletricidade suficiente para garantir autossuficiência e vender o excedente para empresas de serviços públicos. Além disso, nas plantas da Coruripe, a água é usada em circuito fechado, a fim de ser reutilizada em sua totalidade após o tratamento.

LEIA MAIS > Usina Coruripe obtêm financiamento de R$ 193 milhões atrelado ao RenovaBio

Para o executivo, o grande desafio das usinas será o de divulgar para o mercado todas as ações ESG que são desenvolvidas pelo setor. “Precisamos comunicar todas as nossas iniciativas e colocar os objetivos que nós temos de uma forma estruturada para que o mercado enxergue. Temos que reforçar os processos e trazer mais credibilidade para todos esses projetos que nós fazemos no âmbito de social, ambiental e também a parte de governança, para olharmos oportunidades de novas receitas e ter créditos verdes a custos menores. Temos mais ou menos de 15 a 20% da nossa captação que tem o fundo verde e pretendemos avançar”, afirmou Soret.