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Investidores compram 15% da Louis Dreyfus Bioenergia

Um grupo de investidores estrangeiros vai injetar cerca de US$ 180 milhões na Louis Dreyfus Bionergia, braço de açúcar e álcool da gigante francesa Louis Dreyfus Commodity (LCD) no Brasil. O dinheiro ingressará na forma de aumento de capital e dará ao grupo uma fatia de 15% da companhia. Segundo apurou o Valor, os recursos serão usados para novas aquisições que servirão para engordar a empresa de açúcar e álcool antes da sua planejada abertura de capital, prevista para o início de 2008.

O grupo de investidores é liderado pelo sírio Wafic Saïd, bilionário polêmico, com conexões políticas na Arábia Saudita e na Inglaterra, freqüentemente apontado pela imprensa internacional como um negociador de armas. Chama a atenção que alguém tão próximo do governo saudita se interesse agora pelo negócio do etanol. A Louis Dreyfus Bioenergia é uma das maiores empresas do setor de açúcar e álcool do país, atrás da Cosan e da empresa resultante da fusão em andamento entre as usinas Vale do Rosário e Santa Elisa.

A informação do acordo foi confirmada ao Valor por Marcelo Bacci, diretor financeiro da LCD. De acordo com ele, que não quis confirmar valores e nem a identidade dos investidores, a operação será concluída nos próximos dias.

No início deste ano, a Dreyfus anunciou a compra dos ativos do grupo Tavares de Melo, que inclui quatro usinas em operação e uma em construção. Este investimento foi avaliado em R$ 1 bilhão.

No Brasil desde 2000, o grupo Louis Dreyfus Commodities quer se tornar um dos maiores players em açúcar e álcool do país e do mundo. Segundo Bacci, o movimento de expansão deverá continuar. Gigante em grãos e suco de laranja, os negócios de açúcar e álcool do grupo estão concentrados apenas no Brasil e, segundo Bacci, não há planos do grupo fazer investimentos na área fora do país.

Além das unidades recém-adquiridas, a Louis Dreyfus controla as usinas Cresciumal, de Leme (SP), São Carlos, instalada na cidade paulista que leva o mesmo nome, e Luciânia, em Minas Gerais. Outra unidade está em construção no Mato Grosso do Sul.

Com uma moagem em torno de 12 milhões de toneladas, o grupo quer expandir o processamento de cana para quase 20 milhões de toneladas em pelo menos três anos.

Em recente entrevista ao Valor, o grupo informou que planeja fazer investimentos da ordem de US$ 800 milhões no país, sem incluir as recentes aquisições.

Presente em 53 países e com faturamento de US$ 20 bilhões, a LCD está no Brasil desde 1942, quando adquiriu a Comércio e Indústrias Brasileiras Coinbra. O grupo tornou-se um dos maiores produtores de soja e suco de laranja do país, onde seu faturamento gira em torno de US$ 1,9 bilhão.

O bilionário Wafic Saïd é figura discreta, que raramente concede entrevistas. Recentemente, foi apontado como o 65º homem mais rico do Reino Unido em uma lista do Sunday Times, com uma fortuna estimada em 1 bilhão de libras (US$ 2 bilhões). Nascido em Damasco, capital da Síria em 1939, Saïd se mudou para a Inglaterra nos anos 60 onde se formou em contabilidade. Foi nessa época em que se tornou amigo dos herdeiros do trono saudita. Trabalhou por alguns anos em um banco em Genebra e em 1969 mudou-se para a Arábia Saudita. Fez fortuna no ramo da construção e infra-estrutura. Suas conexões com a família real saudita, para quem atuou como consultor e negociador, impulsionaram seus negócios.

Ele é dono da Saïd Holdings, uma companhia de investimentos com sede nas Ilhas Bermudas, cujo portfólio inclui renda fixa, ações, fundos hedge, private equity e ativos imobiliários. Seu nome está profundamente ligado ao maior acordo de venda de armas já fechado, batizado de Al-Yamamah. Em 1986, durante o governo de Margaret Thatcher, de quem era muito próximo, a Arábia Saudita comprou o equivalente a US$ 31 bilhões em armamentos fabricados por empresas inglesas. O caso gerou inúmeras acusações de pagamento de comissões a membros dos dois governos. Hoje, Saïd admite ter sido um negociador do acordo, mas nega ter recebido um tostão sequer.