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Inspeção evita transtorno no funcionamento da usina

“Se quebrar uma corrente de uma determinada esteira, a usina inteira pode ficar parada”. Quem diz isto é o tecnólogo mecânico Paulo Ferreira, da Divisão Industrial da Usina da Barra, de Barra Bonita (SP). Com este exemplo, Ferreira – que trabalha na área de controle de qualidade da usina há 16 anos -, demonstra a importância da inspeção de materiais e equipamentos para evitar inúmeros prejuízos. “Não adianta ter um bom trabalho de montagem se aquilo que você comprou não segue as especificações. Uma tubulação, que estoura, provoca a interrupção do funcionamento de uma moenda”, enfatiza.. Ele lembra que a inspeção, baseada em determinadas normas e procedimentos, é uma garantia de qualidade.

A simples conferência do material, que chega à usina, não é suficiente. ”Em muitos casos não há diferenças visuais..Uma tubulação de aço 304, com durabilidade menor, já chegou a ser entregue no lugar de aço 316, que apresenta maior resistência à corrosão. Esses dois tipos de materiais são aparentemente iguais”, afirma Ferreira. O fornecimento de produtos e equipamentos fora das especificações, como válvulas, conexões, eixos de moenda, tanques de armazenamento, entre outros, pode causar muitos transtornos, interferindo na produtividade e nos custos.

“O setor tinha a fama de aceitar qualquer produto. Mas a situação mudou muito. Atualmente existe a preocupação com a qualidade”, diz Ferreira. Segundo ele, com a realização freqüente da inspeção, o fornecedor passou a ter mais cuidado com o material que envia para a usina. Na maioria dos casos, a Usina da Barra faz o controle de qualidade dos produtos no próprio fabricante. Na inspeção, ocorre a simulação do funcionamento do produto, com a realização de testes de bancada. ”Os problemas, quando existem, são detalhados em um relatório”, explica ele.

Em outras situações, a avaliação é feita na usina. Isto ocorre quando a quantidade do material, o tipo do produto e de inspeção ou mesmo a falta de necessidade de uso imediato não justificam o deslocamento até o fabricante. “Se tivermos urgência de determinado material, é melhor ir até o fornecedor, pois a entrega de produtos fora das especificações poderá comprometer o cronograma de trabalho”, diz. Nem mesmo a embalagem – que é avaliada na própria Usina da Barra – escapa da triagem. Dimensões, tonalidade da cor, espessura do filme – que pode dar problema no desempenho da máquina – são alguns itens verificados.

Padrão de qualidade segue normas internacionais

O controle de qualidade, na aquisição de materiais e equipamentos, exige o envolvimento de diversos setores, devido à necessidade, por exemplo, de troca de informações entre departamentos. Segundo Paulo Ferreira – que é também tecnólogo metalúrgico – na Usina da Barra, o setor comercial já avisa o fornecedor que a compra está condicionada à realização da inspeção. A Welding Soldagem e Inspeções, empresa de Sertãozinho (SP), que atende 120 usinas na área de controle de qualidade, visando à manutenção preventiva inclui, na sua prestação de serviços, a assessoria para a definição das especificações técnicas de equipamentos e componentes durante a realização da compra. Para isto, segue normas da American Society for Testing and Materials — ASTM, utilizadas, por exemplo, na aquisição de eixos e tubos. E, também, se baseia nos critérios da American Society of Mechanical Engenieers — Asme, para a compra de caldeiras e vasos de pressão

A assessoria da Welding, na hora da compra, que leva em conta itens como composição do material, cálculo e soldagem, se estende para a inspeção da qualidade do produto e do serviço de montagem. A empresa faz a análise comprobatória das especificações técnicas em seu Laboratório de Ensaio e Análise de Materiais “As usinas estão ficando cada vez mais conscientes da necessidade desse trabalho. Algumas delas agem, nessa área, com o rigor e eficiência de indústrias do setor petroquímico”, ressalta Márcio Perticarrari, sócio-proprietário da Welding. Ele lembra que caldeiras já trabalham com 480 a 520 graus centrígados e pressão de 63 a 66 quilos, por isso exigem materiais nobres em sua composição. “Se o fornecedor entregar o produto com especificações erradas, a usina poderá ter problemas com desempenho e acidentes”, alerta.

Perticarrari diz que a preocupação de algumas usinas em comprar produtos mais baratos, deixando as especificações para segundo plano, pode causar algumas dificuldades durante a avaliação da qualidade do pedido. “Nesse caso, o fornecedor vai argumentar que foi entregue o produto solicitado”, diz o sócio da Welding. Agora, se tudo estiver previamente definido, qualquer erro será de responsabilidade do fabricante. “Nem mesmo o ISO 9000 é uma garantia de qualidade. Essa certificação qualifica o sistema, mas não qualifica o produto. Já devolvemos material de fornecedores com ISO 9.000”, observa Paulo Ferreira, da Usina da Barra.

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