Mercado

Índio vira bóia-fria com atraso de comida

O atraso na entrega de cestas básicas para os 2.400 índios terenas que habitam quatro aldeias em Sidrolândia (MS) está transformando muitos deles em bóias-frias.

Centenas de terenas estão enfrentando uma jornada diária de dez horas como cortadores de cana em troca de R$ 35,00 por semana. Em Sidrolândia (100 km a sudoeste de Campo Grande), as últimas cestas básicas foram entregues em outubro.

“Há um mês não recebemos a cesta. Estamos comprando fiado no mercadinho aqui da aldeia. Já estamos devendo R$ 25,00”, afirmou ontem a índia Valdinete Fermino Mamede, 28, da aldeia Buriti. Mãe de três filhos, ela preparava feijão com osso para a família, cardápio que tem repetido há um mês. “Na cesta básica, tínhamos fubá, macarrão, arroz. A gente tinha comida diferente. Agora temos de nos contentar com feijão e osso (prato

regional conhecido como pucheiro)”, disse a índia.

Sem a cesta básica, as famílias terenas ficam reféns dos donos das vendas que funcionam na aldeia. Nesses estabelecimentos, o gasto com alimentos sai até 70% a mais do que nas cidades.

Um pacote de cinco quilos de arroz, por exemplo, custa R$ 5,00 na aldeia, R$ 2,00 a mais do que na cidade. O mesmo acontece com o feijão, o óleo, o macarrão e o açúcar, produtos básicos consumidos pelos terenas.

Os donos das vendas não quiseram falar com a reportagem. Da aldeia até a cidade mais próxima há uma distância de 40 quilômetros. O custo do transporte ida e volta gira em torno de R$ 12,00.

Adão Bernardo Gabriel, 38, chefe da aldeia Buriti, disse que com o corte das cestas “algumas famílias podem passar fome”. Ele disse que das 900 famílias terenas que vivem em Sidrolândia, 380 dependem diretamente da cesta básica. “Aqui temos quase mil crianças que podem passar necessidades.”

Na aldeia Córrego do Meio, vizinha da Buriti, os terenas acharam uma alternativa para escapar da fome. Um grupo de 80 homens trabalhou por uma semana para um fazendeiro da região e recebeu um boi como pagamento.