O governo anunciou uma mudança na metodologia de cálculo do Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), que entrará em vigor em maio de 2017. A alteração é baseada em estudos do Ministério de Minas e Energia (MME) e busca dar mais segurança para o fornecimento de energia elétrica no país.
Juliana, qual é a importância do PLD para o setor elétrico?
Juliana: O PLD é um termômetro do custo da geração da energia no país. Quanto mais baixo estiver o nível dos reservatórios das usinas hidrelétricas, mais alto vai ser o PLD, porque teremos menos energia disponível para ser gerada. Essa situação pode levar ao acionamento de usinas térmicas, que custam mais caro. Por isso, o PLD indiretamente envia um sinal para os consumidores, como um alerta para o consumo consciente de energia elétrica.
O PLD tem o mesmo efeito sobre os consumidores livres e cativos?
Ambos sentem os efeitos, mas, para os consumidores livres, o impacto é mais imediato. Isso porque o PLD é uma referência para os preços dos contratos de energia no mercado livre, ou seja, se o PLD estiver mais baixo, é mais provável que um consumidor livre consiga fechar um contrato por um preço mais interessante. Além disso, o consumidor livre também lida com o PLD mesmo depois de firmar um contrato de longo prazo, porque pode vir a comprar ou liquidar quantidades menores de energia em alguns meses, para fazer pequenos ajustes. Já no caso dos consumidores cativos, o efeito pode ser observado em um primeiro momento na incidência de diferentes bandeiras tarifárias e, em um momento futuro, na revisão da tarifa das distribuidoras.
Em linhas gerais, como deve ficar esse cálculo em 2017?
Basicamente, o cálculo semanal do PLD considera as perspectivas de geração de energia futura a partir da observação do cenário atual. Na prática, o nível dos reservatórios das hidrelétricas é o principal indicador, que pode aumentar ou diminuir de acordo com as afluências dos rios e com o ritmo do consumo de energia. A principal mudança anunciada pelo governo é nos parâmetros do CVAR (Conditional Value at Risk), uma metodologia de aversão ao risco que considera cenários futuros de afluências mais pessimistas. O que o governo fez foi deixar o CVAR com mais aversão a risco, considerando parâmetros de cenários ainda mais pessimistas do que na metodologia atual. Outra mudança é no chamado custo do déficit, que é o custo do não atendimento da carga. No novo modelo, haverá apenas um patamar de custo de déficit.
Por que o governo decidiu alterar a metodologia de cálculo do PLD?
O principal objetivo do CVAR é de reduzir o risco de falta de energia no sistema, aumentando os níveis dos reservatórios e evitando acionamentos de térmicas fora da ordem de mérito. Entretanto, mesmo com a metodologia já nos modelos, observa-se nos últimos anos a geração térmica fora da ordem de mérito. Isso indica que os parâmetros do CVAR não são mais tão eficientes e precisam de aprimoramento.
Qual deve ser o impacto dessa mudança nos preços da energia?
Como os novos parâmetros de cálculo serão mais pessimistas, considerando cenários de maior escassez de água nos reservatórios e, consequentemente, maior acionamento de térmicas, o natural é que o PLD fique mais alto.
Você tem alguma recomendação para os consumidores livres que precisam ficar de olho no PLD?
Os consumidores livres devem sempre lembrar que o PLD continua sendo relevante após a contratação de energia no longo prazo, para os ajustes de sobra ou falta de energia em alguns meses. Na Comerc, nós disponibilizamos relatórios semanais detalhados com as tendências para o PLD a partir de análises de especialistas do nosso time, como estatísticos e meteorologistas.