A Índia deverá demandar pelo menos 1 bilhão de litros de etanol do Brasil em até cinco anos. A necessidade pelo álcool para ser usado como combustível irá aumentar assim que se tornar obrigatória a legislação que regula a mistura do álcool à gasolina naquele país, e, também, quando a frota de automóveis estiver adequada para utilizar a mistura – o que ainda não acontece, tanto que há interesse pela tecnologia brasileira dos carros flex fuel.
A avaliação sobre o volume de potencial inicial é de Giancarlo Oliveira, sócio da consultoria The Jai Group. A empresa está prospectando negócios para cinco empresas daquele país atualmente, interessadas em comprar e construir usinas fabricantes de etanol em solo brasileiro.
Os indianos devem formar um consórcio e comprar participações em usinas brasileiras produtoras de etanol. O objetivo é conhecer tecnologias brasileiras e, mais tarde, aplicá-las na Índia. O país asiático ainda não tem carros movidos a etanol, apesar de adicionar 5% do produto à gasolina.
“As empresas que têm mais apetite querem fazer ambos: construir e adquirir plantas”, conta Oliveira. “Há probabilidade de que ocorra o anúncio de uma operação grande nos próximos seis meses”, diz o executivo, que não pôde revelar os nomes das companhias por conta de sigilo contratual. Atualmente, o álcool que a Índia importa é direcionado para outros fins, como o industrial e para cosméticos.
Segundo Oliveira, o Brasil atrai investimentos nessa área porque o custo de produção é baixo, o país tem know-how (tecnologia) desenvolvido no setor, há quantidade de terras produtivas, além do que, as relações políticas entre os dois países nunca estiveram antes tão favoráveis. “Ambos se aliaram em diversas questões internacionais, estão em um momento de alinhamento político e ideológico”, avalia.
O custo de produção de um litro de etanol no Brasil varia entre US$ 0,28 e US$ 0,30, enquanto na Índia sobe para faixa de US$ 0,42 a US$ 0,47.
Além do fator custo, as usinas existentes lá hoje estão voltadas para a produção de açúcar, que atende o consumo da enorme população do país – o açúcar é fonte barata de calorias. “Para produzir etanol sem reduzir produção de açúcar, seria necessário expandir a produção de cana, mas a Índia não tem mais terras aráveis em potencial.
E apostar em produtividade demoraria muito a trazer resultados”, diz Oliveira.
Conforme adiantou o DCI, pelo menos duas empresas privadas buscam formar parcerias e joint ventures com empresários brasileiros. São elas a Hindustan Bajaj – que atua na produção de açúcar e álcool naquele país – e a Walchandnagar – indústria de base. A informação foi dada pelo cônsul-geral da Índia no Brasil, S. Swaminathan. As estatais petroleiras Bharat Petroleum, Hindustan Oil e Indian Oil também anunciaram recentemente que farão investimentos de US$ 600 milhões para a produção de etanol no Brasil. Do segmento de indústrias de base fornecedoras do setor, a Walchandnagar não é a primeira a interagir com empresários brasileiros.
A Praj Industries está atuando oficialmente no mercado nacional desde o início deste mês por meio de joint venture que formou com a brasileira Jaraguá -e que resultou na formação da Praj Jaraguá Bioenergia S.A.
Os indianos também procuraram um instituto de desenvolvimento de tecnologias para fabricação de etanol em Piracicaba, estado de São Paulo.Segundo Swaminathan, os biocombustíveis podem acrescentar muito ao fluxo de comércio entre os dois países a médio prazo.
A meta de corrente comercial estabelecida pelos governos dos dois países há alguns anos, de chegar aos US$ 10 bilhões em 2010, pode ser até mesmo superada, em sua opinião, por conta dos interesses mútuos que podem surgir entre empresários do setor.
No ano passado, a corrente comercial Brasil e Índia totalizou US$ 3,122 bilhões e o Brasil é deficitário na balança. Enquanto as vendas externas para os indianos somaram US$ 957,8 milhões, as importações de produtos daquele país totalizaram US$ 2,164 bilhões. Os principais produtos que envolvem a pauta de comércio são petróleo e soja.
A Índia irá demandar pelo menos 1 bilhão de litros de etanol do Brasil em até cinco anos. A necessidade pelo álcool combustível irá aumentar assim que se tornar obrigatória a lei da mistura do álcool à gasolina.