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Independência brasileira em energia...

Wichita, Kansas, “Se somos dependentes do Oriente Médio, para que ser dependente do Brasil?”, indaga. Mas por que então o presidente George W. Bush assina memorandos de entendimento com o Brasil? “Só está querendo construir relacionamentos com a região”, responde. Na cabeça deste pequeno empresário, influente no Partido Republicano, reside a resistência americana ao etanol brasileiro. A estratégia dos EUA, diz, é ir respondendo à demanda de biocombustíveis misturados à gasolina – seja de milho, cevada, granola, sorgo, celulose “e tudo que tem grão”, até a independência. “Temos dinheiro, tecnologia e vontade para tornar isso realidade”.

Se existe um lugar fora do Brasil onde o etanol é a menina-dos-olhos do meio empresarial, este lugar são os EUA. De acordo com o lobby alcooleiro do país, a Renewable Fuels Association, já existem 107 biorefinarias no país com uma capacidade de 5,1 bilhões de galões/ano. Outras 56 estão sendo construídas, somando mais 3,8 bilhões de galões nos próximos 18 meses. Com o passar do tempo, acredita-se que boa parte dos 150 bilhões de galões de gasolina necessários para rodar o país sejam substituídos por etanol.

Há mais de 25 anos o etanol é subsidiado, com a isenção de impostos de US$ 0,52/galão. “O subsídio é uma das piores coisas para a economia”, diz Trammell, “mas acreditamos que, se o petróleo continuar acima de US$ 50 o barril em pouco tempo não será mais necessário”, diz.

O etanol, como outros biocombustíveis, é considerado pelo Ethanol Across America, grupo lobista, “o renascimento da vida rural americana”. Entre 12% e 13% da safra de milho está sendo usada e espera-se 20% em pouco tempo. Segundo o Departamento da Agricultura, cerca de 30% do milho poderá ser utilizado para álcool em 2010. “Em 1999 produzíamos apenas 500 mil barris, e no ano passado chegamos a 245 milhões – é um aumento fantástico”, diz o vice-ministro Thomas C. Dorr.

Segundo o grupo, uma típica planta de etanol injeta, em média, US$ 71 milhões na economia local na construção, e US$ 50 milhões nos anos seguintes. A usina cria 33 empregos diretos e 120 indiretos, aumentando a renda familiar em US$ 6,7 bilhões anuais. Nacionalmente, o etanol adiciona US$ 14 bilhões ao PIB, gera 200 mil empregos e mais de US$ 2,5 bilhões em impostos federais e estaduais.

Se Trammel refizer as contas, no entanto, descobrirá que os EUA não são o paraíso do etanol de milho, como pensa, diz o presidente da Ethanol Trading, o brasileiro Roberto Giannetti da Fonseca. “A taxa de retorno do investimento foi estimada com base no preço de US$ 2,50 por bushel. Hoje este preço já está em US$ 4,00, o que representa cerca de 70% do custo de produção do etanol nos EUA”.

“Muitos produtores locais têm reduzida margem de lucro ou até prejuízo e, diante do acréscimo de demanda energética para o milho americano, os preços na Bolsa de Chicago poderão ir a US$ 5,00 o bushel até o fim do ano”, diz. “O que os produtores americanos devem saber é que o ponto de máxima rentabilidade para sua industria não é necessariamente o ponto de máxima produção, pois se a partir de um certo nível de produção o custo marginal supera a receita marginal, ele terá rendimentos decrescentes a partir daí”, afirma.

“Se os produtores americanos de etanol não pressionassem tanto a demanda de milho e produzissem cerca 70% de sua capacidade instalada, obteriam melhores níveis de rentabilidade do que os que estão sendo atualmente obtidos. Quanto à demanda de etanol remanescente, ela poderia ser abastecida pelo etanol importado, especialmente do Brasil”, conclui.