O setor industrial, coração da economia, vem batendo cada vez mais devagar. Os estímulos e pacotes econômicos não foram suficientes para impulsionar a retomada de investimentos. A pressão aumenta na medida em que os números vão piorando ao longo do ano. Em maio, o Espírito Santo, por exemplo, apresentou o maior recuo de produção regional do país segundo o IBGE. O índice de confiança dos empresários do setor industrial, em julho, é o mais baixo desde 2009. Os investimentos necessários para aumento de produção não estão acontecendo como deveriam, abrindo espaço, no caso de retomada das atividades econômicas, para mais produtos importados ou aumento de preços. Tiro no pé.
A crise econômica contribui para essa contração, mas a indústria nacional, diferentemente das oscilações vividas pela indústria europeia, vem perdendo força e valor ao longo dos anos.
A indústria brasileira possui insumos, como minério de ferro, à sua disposição. O etanol, viabilizado tecnicamente nos carros flex e bem menos poluente que a gasolina, deu lugar ao açúcar nas usinas. Até a cachaça tem tido mais destaque nas exportações brasileiras. A burocracia de licenças ambientais e autorizações de órgãos públicos atrasam os planos de desenvolvimento. Os impostos elevados, confusos, a ineficiência do Estado e os benefícios trabalhistas recaem sobre o custo da produção, diminuindo a competitividade made in Brazil.
Alguns aspectos na gestão empresarial ainda contribuem para ineficiência, como pouca integração com fornecedores, ou simplesmente acomodação. É necessário esforço redobrado para retomar o rumo. Contudo existe um consenso que a indústria precisa de mais ajuda para voltar crescer. Os incentivos são bem-vindos, a redução do custo de investimento foi assertiva, mas não é possível acreditar que o tratamento para indústria agonizante seja redução momentânea de impostos para carros, tanquinhos ou mesmo um bom fogão de seis bocas.
É preciso gerar segurança, agregar valor às medidas provisórias para que o mecanismo engrene novamente, rever legislações e reduzir a burocracia visando ao aumento da competitividade e redução dos custos de produção. Garantir que os investimentos em infraestrutura saiam do papel no tempo e custo adequados.
Enfim, é fundamental tratar a doença e não apenas os sintomas. Impulsionar os batimentos e desentupir as artérias do setor para que os resultados apareçam. Nossa indústria depende disso e nosso futuro também.
Frederico Magalhães
É engenheiro elétrico