Os incêndios em áreas de cultivo de cana-de-açúcar no Brasil têm causado prejuízos significativos, com uma quebra estimada de 15% na safra 2024/25, e perdas financeiras que ultrapassam R$ 2,5 bilhões. Os dados foram divulgados pela Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (ORPLANA) durante o webinar “Incêndios Florestais: Prevenção, Combate e Impactos no Agronegócio”, promovido pela Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG) e pela ABAG-RP.
O CEO da ORPLANA, José Guilherme Nogueira, destacou a gravidade da situação: “Os produtores de cana ainda estão se organizando para entender os próximos passos, visto que os custos para replantio e manejo são muito altos. Devido às perdas, a cana só conseguirá rebrotar quando as chuvas chegarem de forma uniforme e volumosa. Estimamos uma quebra de cerca de 15% em comparação com a safra passada, o que impactará diretamente na oferta mundial de açúcar e, consequentemente, nos preços do etanol.”
O evento contou com a participação de especialistas como Carolina Matos, da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), o major Jean Gomes, do Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo, e Flávio Okamoto, promotor de justiça do Ministério Público de São Paulo.
Aumento recorde de incêndios
De janeiro a setembro de 2024, o estado de São Paulo registrou quase 8 mil focos de incêndios florestais, um aumento impressionante de 433% em relação ao mesmo período de 2023, quando houve 1.488 focos. Os incêndios devastaram aproximadamente 430 mil hectares de terra, enquanto no ano anterior o total foi de apenas 34 mil hectares.
“A situação só não foi pior porque estávamos preparados”, afirmou Carolina Matos, mencionando as medidas tomadas pelo governo paulista, que incluiu a criação de um gabinete de crise, investimentos de R$ 8,7 milhões para proteger Unidades de Conservação, além da mobilização de mais de 20 aeronaves.
Flávio Okamoto enfatizou a necessidade de fortalecer a capacidade de resposta dos municípios e ampliar treinamentos. Ele mencionou a proposta do Ministério Público para roçar a vegetação “cerca a cerca” ao longo das estradas de São Paulo. “Estamos em negociações avançadas com o Departamento de Estradas de Rodagem (DER), a Artesp e a Secretaria de Parcerias e Investimentos para que as concessionárias também adotem essa medida, o que exigirá mudanças contratuais”, explicou Okamoto.
O major Jean Gomes relatou estudos realizados para avaliar a influência de vegetação fina, como braquiárias e capim colonião, que intensificam o potencial de combustão. Ele citou o sucesso de um experimento na Reserva de Jataí, no município paulista de Luiz Antônio, onde o uso de queima prescrita em 2021 e 2022 reduziu os riscos de incêndios em 91%.
A prática de fogo prescrito, como ferramenta de controle, foi destacada por Flávio Okamoto. Ele informou que a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) recebeu autorização da CETESB para conduzir pesquisas científicas sobre o uso controlado do fogo. Atualmente, duas pesquisas estão em andamento com o objetivo de comprovar a eficácia dessa prática. Okamoto também sublinhou o avanço da Lei nº 14.944, que em julho de 2024 instituiu a Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo.
No âmbito das investigações sobre a origem criminosa dos incêndios, Okamoto revelou que 16 prisões em flagrante foram efetuadas, e alguns casos já contam com pedidos de prisão preventiva decretados.