Mercado

Ideaglobal projeta Selic em 14% no 1º semestre

A consultoria americana Ideaglobal traça um quadro bastante otimista para o Brasil em 2004. Com a melhora das contas externas e a expectativa de que a taxa Selic cairá dos atuais 16,5% para 14% ao ano ou menos antes do fim do primeiro semestre, o chefe para a América Latina da Ideaglobal, Ricardo Amorim, vê espaço para a economia crescer 4,5%, sem que isso provoque pressões inflacionárias ou afete a balança comercial.

Esse cenário róseo leva em conta a manutenção de um ambiente internacional favorável, pelo menos durante boa parte do ano. A Ideaglobal não espera um aumento dos juros americanos, hoje em 1% ao ano, no primeiro semestre. Com isso, os títulos de países emergentes devem continuar a subir com força no primeiro trimestre, e possivelmente também no segundo, o que pode levar o risco-Brasil, atualmente em 471 pontos, para 400 pontos. Com esse otimismo, a Ideaglobal mantém a recomendação acima da média de mercado (“overweight”) para os papéis brasileiros, mesmo depois de o C-Bond ter subido 48% em 2003.

Para Amorim, o comportamento da inflação indica que o Banco Central (BC) ainda tem bastante espaço para continuar afrouxando a política monetária, principalmente porque a demanda não deve pressionar os preços num quadro de desemprego elevado e baixos salários reais. Ele ressalta ainda que a maior parte das medidas de núcleo de inflação vem rodando abaixo da meta de 2004, de 5,5%, com tolerância de 2,5 pontos porcentuais. Além disso, os juros reais no país continuam elevados, entre 9,4% e 10%, dependendo da forma como são calculados.

Outro fator importante para definir a velocidade da queda dos juros será o câmbio, que, para a Ideaglobal, deverá ter uma depreciação apenas moderada, permitindo a continuidade do afrouxamento monetário. Amorim acredita que o dólar vai encerrar o ano em R$ 3,20, 10,3% acima dos atuais R$ 2,902. A provável alta dos juros americanos no segundo semestre deverá contribuir para essa leve depreciação do real, assim como a elevação das necessidades totais de financiamento externo (contas correntes e amortizações), que pulam de US$ 24,2 bilhões em 2003 para US$ 40,6 bilhões em 2004. É um aumento razoável, mas não assustador, afirma Amorim, pois o número ainda fica US$ 9,8 bilhões abaixo da média anual de 1996 a 2003.

O economista também aposta no bom desempenho da balança comercial, estimulado pelo crescimento global mais forte e pelas perspectivas favoráveis para os preços das commodities. A Ideaglobal projeta um superávit de US$ 22,3 bilhões, mesmo num ano em que a economia deverá crescer 4,5%. A previsão otimista se deve em parte à fraca base de comparação, já que em 2003 a economia deve registrar crescimento próximo de zero. Vale lembrar que o cenário da Ideaglobal tem como pressupostos a manutenção dos rumos da política econômica em 2004, além do empenho do governo em aprovar projetos como a Lei de Falências e a autonomia do BC.