Há um grande interesse de milionários estrangeiros em investir no Brasil, seja no mercado imobiliário, seja em etanol ou em bolsa de valores que, apesar da alta recente, continua atrativa. A avaliação é do presidente mundial de private banking do banco inglês HSBC, Christopher Meares, que veio ao Brasil em sua primeira rodada internacional de visitas após assumir o posto, em novembro de 2006. Há 26 anos no grupo, Meares trabalhou em Hong Kong, Oriente Médio e Reino Unido. O HSBC é o terceiro maior private bank do mundo, atrás do suíço UBS e do americano Citibank, com US$ 408 bilhões em ativos sob gestão, dos quais US$ 40 bilhões, ou cerca de 10% são da América Latina. A seguir, a entrevista dada ao Valor:
Valor: Qual o motivo de sua visita ao Brasil?
Christopher Meares: O Brasil é um dos países que eu tinha de visitar e conhecer por dois aspectos. Primeiro, nossa operação local. Temos cerca de cem pessoas no private banking aqui. Estamos em seis locais, Salvador, São Paulo, Rio, Curitiba, Porto Alegre e Belo Horizonte e estamos abrindo escritórios em Goiânia e em Brasília este ano. Isso reflete como o mercado está se desenvolvendo na área de private aqui. E uma das diferenças-chave em nossa estratégia é construir uma operação de private bank doméstico, e ao mesmo tempo global. O segundo é o Brasil como destino de investimento dos clientes internacionais. Nós temos um fundo BRIC (que aplica em ações do Brasil, Rússia, Índia e China) que se tornou muito popular entre os private. Os clientes de mais alta renda tem um elevado volume de recursos para investir globalmente. O Brasil como opção de investimento internacional é tão importante para nós quanto a operação local de private bank.
Valor: Que países fazem mais sucesso hoje?
Meares: Talvez pelo fato de o banco ter surgido na Asia nós temos um grande interesse por Índia e China. E agora as pessoas estão prestando mais atenção à América Latina, ao Brasil especialmente, por conta de como a economia está indo, o interesse em recursos naturais, o fato de como o comércio exterior com a Ásia está se desenvolvendo, o interesse em etanol. Há mais interesse em saber como investir aqui.
Valor: Que tipo de cliente está investindo aqui?
Meares: Temos clientes, por exemplo, no Oriente Médio, de altíssima renda e altíssima liquidez por conta dos elevados preços do petróleo, que estão procurando diversificar as aplicações em imóveis e infra-estrutura naquela região e em outras. E eles tendem a vir mais para os emergentes porque eles entendem melhor esses mercados. Eles estão interessados em casos como o Brasil mais do que nos Estados Unidos ou Europa.
Valor: Quais setores no Brasil interessam para os estrangeiros?
Meares: Investidores internacionais adoram imóveis. Se você olhar no longo prazo, eles são boas aplicações, em geral, mas os preços em vários mercados estão muito altos, nos EUA, na Europa, mesmo na Ásia. E eles estão procurando outros mercados menos valorizados, como o Brasil. Eles querem também saber como participar de negócios na área de commodities em geral. Como se envolver com etanol, soja e outras commodities, mas para um estrangeiro não é fácil investir em muitos desses setores no Brasil. Há poucas empresas listadas em bolsa desses setores. Agora você tem aberturas de capital e, com o desenvolvimento do mercado, deve ficar mais fácil. Mas a menos que você tenha uma operação local, é difícil conseguir orientar bem o investidor a aplicar em imóveis ou em fazendas.
Valor: Vocês pretendem ampliar a atuação na América Latina?
Meares: Um lugar onde estamos estudando investir mais em private bank é no México. Com a aquisição do panamenho Banistmo, temos operações, além do Panamá, em El Salvador e Colômbia onde ele atua. E temos pequenas equipes na Argentina e no Chile. No total, a América Latina responde por US$ 40 bilhões dos US$ 408 bilhões de recursos sob gestão do nosso private global. O private bank tem cerca de 90 mil clientes ao redor do mundo, para 113 milhões de clientes do HSBC.
Valor: Há algum grande risco à vista que pode mudar esse cenário?
Meares: Isso não é específico para o Brasil, é para o mundo todo, nós estamos no quarto ano de mercado em alta, o que tem sido muito bom para os private banks. O que estamos dizendo é que está chegando um momento em que pode haver uma correção nos mercados e temos de estar atentos. A boa coisa é que estamos trazendo o investidor de volta à realidade, ele dever ser mais cauteloso com os investimentos. Mas eu penso que o mercado brasileiro ainda tem valor competitivo em relação a outros países.
Valor: Inclusive a bolsa?
Meares: Sim, olhando para a média da relação Preço/Lucro (indicador do tempo de retorno do investimento em uma ação) do mercado brasileiro, ela está em torno de 10 vezes, um nível bem atrativo em relação a outros mercados. Nos Estados Unidos, essa relação está na casa dos 16, 17.
Valor: O projeto de anistia para recursos no exterior beneficiaria o HSBC private?
Meares: Temos visto anistias ao redor do mundo, na Itália, Alemanha, até o Reino Unido está falando sobre isso, é um fenômeno global. Penso que é uma forma de trazer parte do dinheiro de volta, mas provavelmente não tanto quanto as pessoas esperam. Em geral, não teríamos tanto impacto, pois como somos um banco mais novo, temos um perfil diferente de cliente, que já mandou os recursos para fora quando as leis de remessas eram menos rígidas. Nosso objetivo em ter um private local não é esse, achamos que todo private precisa desenvolver uma estrutura local, já que 80% dos recursos dos investidores estão no próprio país. A isso agregamos a vantagem de ser um banco global. Podemos ajudar o cliente a comprar uma segunda casa em Recife ou em Barbados ou nos Alpes, cuidado da documentação e dos trâmites legais. Ou comprar um barco e ajudar a escolher o melhor lugar para ancorá-lo, se no Caribe ou no Mediterrâneo. Muitos milionários hoje querem comprar aviões, não apenas para se mostrar, mas porque é conveniente, pois eles viajam muito e não querem perder tempo em aeroportos. Nosso trabalho é ajudar esses clientes nisso.