Por causa da greve de sua escola, Wemerson Charlley da Fonseca Fraga, de 16 anos, vai cruzar pela primeira vez o Oceano Atlântico. Numa das 45 tardes de férias forçadas em que se perdia pela internet, ele achou a chamada para o concurso Minha Cidade É Meu Planeta, parceria de ÉPOCA com o Conselho Britânico. Autor do melhor texto sobre degradação ambiental, ele ganhou uma viagem para Londres. De Inhumas, interior de Goiás, ele será um dos representantes do Brasil no Fórum Internacional Estudantil Greening Cities. Lá encontrará estudantes de mais de 50 países para debater como as cidades podem combater as mudanças climáticas. Os participantes enviaram textos sobre as medidas que poderiam ser tomadas em sua cidade para reduzir o aquecimento global.
Quando decidiu entrar no concurso, Wemerson tinha tempo de sobra, mas nenhum auxílio de professores da escola estadual em que estuda. Sem sinal de volta às aulas, o jeito foi matutar sozinho. “Eu podia escrever sobre lixo ou transporte. Mas o símbolo da liberação de carbono de Inhumas são as queimadas nas plantações de cana-de-açúcar”, afirma. Como o fogo é usado na colheita manual, a solução seria mecanizar. Para contornar o desemprego da medida, sua proposta é alternar o cultivo de cana e soja. A idéia ganhou força em um chat com um agrônomo. “Ele me explicou que a soja também serve para a produção de biodiesel”, diz. Assim, além de gerar emprego, a atividade produziria combustível sustentável. Com o argumento pronto, a revisão de texto foi feita com a ajuda de um consultor de escolas privadas de Minas Gerais.
Wemerson é da geração que encontra, na internet, uma segunda escola. Ele afirma vasculhar diariamente o Google atrás de novidades ligadas ao aquecimento global. Diz que o fenômeno “não é coisa de cientista maluco”. E que se preocupa. Pois é em seu futuro que o impacto será sentido. É esse o perfil dos estudantes que se reúnem do dia 10 a 12 em Londres.
Para representar o Brasil, o Conselho Britânico leva mais dois alunos, de São Paulo e do Recife. A pernambucana é Gisele de Mendonça Diniz, de 16 anos. “Quando alguma coisa o assusta, você tem de encarar e buscar uma saída”, diz ela. “Eu foco nas soluções.” Bolsista do Colégio Boa Viagem, ela foi selecionada ao apresentar alternativas para a produção de energia. Escreveu sobre o uso do maracujá, do pinhão e dos óleos de dendê e sardinha.
O outro estudante é o paulistano Rafael Hime Funari, de 17 anos, do Colégio São Luís. Ele é o único que já conhece a Europa. No futuro, pretende trabalhar por lá numa ONG como engenheiro ambiental. “Tanta gente daqui denuncia a devastação da Amazônia e nada acontece”, afirma. Gisele diz economizar para comprar livros de Direito Internacional. Um dia, quem sabe, virar embaixadora do Brasil nas conferências das Nações Unidas sobre mudanças climáticas. Wemerson quer ser jornalista e diz que sonha em garimpar e transmitir informações – que chama de “bem mais precioso”. Esses estudantes brasileiros são três cabeças diferentes, pensando com outras centenas de jovens. Eles representam uma geração que aposta na união para salvar o planeta que vão herdar.