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Há mais vagas que candidatos

As usinas de açúcar e álcool correm atrás de mão de obra especializada, que se tornou rara no Triângulo mineiro, principal centro geográfico da área de abrangência dos projetos de expansão do setor no estado. Às vésperas de começar a moer cana de açúcar em Tupaciguara, a Bioenergética Aroeira, nova unidade industrial dos grupos Maubisa, Perplan e Saci, mantinha até ontem cerca de 50 vagas em aberto, por falta de candidatos. O grupo Coruripe, dono de fábricas em Iturama, Campo Florido, Limeira do Oeste e Carneirinho, por sua vez, decidiu criar há 40 dias um braço específico da organização para treinar e desenvolver profissionais, no cenário de absoluta escassez de gente qualificada.

Para se ter uma ideia da extensão do problema, 2,7 mil vagas serão abertas em Minas dentro de um plano nacional de qualificação de trabalhadores do setor negociado pelas empresas e os representantes dos próprios trabalhadores com o governo federal. A dificuldade é que o lançamento da iniciativa tem se arrastado, com a greve dos funcionários do Ministério do Trabalho. Segundo Luiz Custódio Cotta Martins, presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e Álcool de Minas Gerais (Siamig/Sindaçúcar), a verba inicial de R$ 12,5 milhões está assegurada, mas não chegou a sair o edital que vai credenciar as instituições executoras do programa. A expectativa é de que a burocracia seja vencida nos próximos dias.

As áreas mais críticas na contratação estão ligadas às atividades de operação de máquinas e manutenção. “Com o crescimento rápido do setor e a expansão da economia brasileira, cada vez mais as empresas têm de adotar políticas próprias de treinamento”, afirma Custódio Martins. O setor sucroalcooleiro deve concluir este ano investimentos de US$ 4 bilhões iniciados em 2003 para a construção de 22 usinas, com a estimativa de geração de 40 mil empregos.

Os postos de trabalho que a Bioenergética Aroeira ainda não conseguiu preencher envolvem diversas funções, de líderes de processo industrial a operadores de caldeira e destiladoras. O diretor administrativo da empresa, Gabriel Feres Junqueira, diz que o obstáculo seria ainda maior não fosse o desejo de voltar à terra natal de gente que saiu de Minas para trabalhar em Mato Grosso e Tocantins, por exemplo. “As empresas investiram alto desde 2006 e todo mundo precisou de muita mão de obra. A formação profissional, no entanto, não acompanhou esse crescimento e vamos ter de aprofundar o trabalho de treinamento de pessoal”, afirma.

A decisão é de recrutar gente do próprio município que abriga a Aroeira para ajudar a suprir a mão de obra necessária. Se, de um lado, a alternativa evita comprometer o cronograma de operação e inauguração oficial no ano que vem, afeta de alguma forma o nível de eficiência inicial esperado na produção, observa Gabriel Junqueira. Isso, uma vez que os trabalhadores sem experiência demandam tempo para alcançar bom desempenho na função. A usina recebeu recursos de US$ 130 milhões para produzir 110 milhões de litros de etanol por ano, moendo 1,3 milhão de toneladas anuais de cana. São cerca de 400 trabalhadores diretos entre as áreas agrícola e industrial.

No escritório da Coruripe no Triângulo mineiro, está sendo traçado um programa de treinamento que envolve recapacitação de atuais empregados e de gente das comunidades onde o grupo atua, informa Leandro Campana Bordin, coordenador de RH. “Houve baixo investimento em mão de obra técnica no país. Além disso, os trabalhadores mais qualificados deixaram as pequenas cidades e as áreas rurais”, diz, ao analisar a que ponto chegou a escassez de trabalhadores no setor. A ambição do planos de qualificação é grande. Só em treinamentos internos, a empresa já consumiu 20 mil horas.

A principal barreira nos processos de contratação das empresas está na falta de homens para trabalhar em funções operacionais, avalia Hegel Botinha, diretor comercial do grupo Selpe, especializado em recrutamento de mão de obra, com posto de atendimento em Uberlândia. “A situação só tem piorado de um ano para cá. Há um aquecimento de todas as atividades, o que pode se configurar num apagão de mão de obra no fim do ano”, afirma. A preocupação de Vilson Luiz da Silva, presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura em Minas Gerais (Fetaemg), é que o plano de qualificação negociado com o governo está concentrado nas atividades e condução de máquinas, enquanto a mecanização das lavouras tende a cortar milhares de empregos.

INDÚSTRIA CONTRATA

O nível do emprego na indústria cresceu 5,4% em julho no país, na comparação com idêntico período do ano passado, conforme a Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Trata-se da taxa mais elevada para os meses de julho desde o início da série histórica do levantamento, em 2001. Frente a junho, o crescimento foi bem modesto, de 0,3%, mas representa o sétimo resultado positivo. Houve crescimento em todos os locais pesquisados. O destaque ficou com São Paulo, que registrou taxa de 3,9% em agosto. Em seguida, apareceram as regiões Nordeste (7,7%) e Norte e Centro-Oeste (8,1%), Rio Grande do Sul (7,1%), Rio de Janeiro (9,0%) e Minas Gerais (4,4%). A folha de pagamento real dos trabalhadores teve avanço de 11,2% em relação a julho de 2009, a maior taxa, em comparações anuais, dos últimos seis anos.