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Guerra no Golfo beneficia o setor, diz economista

O professor de economia Antonio Vicente Golfeto, diretor do Instituto de Economia Maurílio Biagi, acredita que “o conflito no Golfo Pérsico não beneficiará somente a indústria bélica e os produtores de petróleo, mas também o setor sucroalcooleiro”. O instituto acompanha a vida econômica e financeira de toda região de Ribeirão Preto, responsável pela produção de pouco mais de 33% do álcool brasileiro.

Para o professor de economia “vamos pagar bem mais caro pelo petróleo (o Brasil importa 25% do que consome), e o repasse para o consumidor no preço da gasolina será inevitável”, afirma ele, acrescentando que não tem dúvidas de que “o preço do álcool acompanha naturalmente essa mesma tendência, já que é o mercado que determina o ritmo dos preços”. Ainda assim, a assessoria da Unica adverte que o planejamento do setor está dentro do acordo firmado com o governo em fevereiro, ou seja, produzir mais álcool e priorizá-lo em relação ao açúcar já no começo da safra.

A pesquisadora Marta Maistro, da Esalq, também não acredita numa explosão no preço do álcool. “É mais fácil o setor sucroalcooleiro sair fortalecido ao demonstrar o quanto é viável a produção de energia alternativa”, acrescenta ele. O analista Alan Marinovic, da consultoria ABM, comandada pelo professor Alberto Matias, da Faculdade de Administração e Economia da Universidade de São Paulo (USP), tem a mesma linha de raciocínio da pesquisadora da Esalq.

Matias entende que o conflito no Golfo pode servir como alerta para que o governo adote uma política de valorização do álcool como energia limpa e alternativa, e disse não acreditar que o combustível acompanhe uma explosão do preço da gasolina, mas sim contê-la através do aumento da adição que incentiva uma maior produção. “Outro fato é que um conflito desse tipo gera também problemas para a exportação do açúcar, havendo maior disponibilidade de cana para a produção de álcool”.

A primeira iniciativa nesse sentido vem de Pernambuco. Os empresários reivindicam que em Brasília a inclusão do setor sucroalcooleiro no plano energético do governo federal, também em conseqüência de um conflito entre os Estados Unidos e o Iraque. O Sindicato das Indústrias do Açúcar e do Álcool de Pernambuco (Sindaçúcar) vê no conflito a oportunidade de retomada do Programa Brasileiro do Álcool (Proálcool), devido aos reflexos que o confronto terá sobre a produção e os preços internacionais do petróleo e derivados.

O Proálcool, criado em 1974, foi progressivamente extinto nos anos 80. No auge do programa, o parque alcooleiro nacional chegou a operar com 100% da capacidade. De acordo com o presidente do Sindaçúcar, Renato Cunha, a reativação este ano teria efeito imediato sobre o setor sucroalcooleiro, elevando a produção de álcool anidro (usado na mistura com a gasolina) e hidratado carburante (combustível) entre 1 bilhão e 1,5 bilhão de litros em relação a 2002.

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