Mercado

Grupos logísticos assumem os canaviais

Grandes grupos especializados em logística encontraram na cana-de-açúcar um novo mercado para diversificar suas áreas de atuação. E, dependendo de como forem nos primeiros meses da chamada operação CCT (corte, carregamento e transporte), em breve poderão cuidar também da preparação do solo e do plantio da cana para as usinas de açúcar e álcool. O contrato mais recente foi firmado entre os grupos Gafor e Cosan, girando em torno de R$ 350 milhões em cinco anos.

A contratação de operadores logísticos para o CCT é inspirada no setor de papel e celulose, onde a relação entre as partes já é bastante desenvolvida. No caso da cana-de-açúcar, o CCT chega a representar 25% do custo operacional de uma usina.

Para atender a Cosan, o grupo Gafor prevê investir cerca de R$ 80 milhões em ativos, como caminhões, colheitadeiras e implementos rodoviários. Segundo Luiz Henrique Lissoni, diretor da divisão de logística do grupo, o CCT para a Cosan tem um volume de mais de três mil toneladas por dia. A empresa atende a usina Bonfim, localizada em Guariba (SP).

Na usina Gasa, instalada em Andradina (SP), a Cosan contratou o grupo Julio Simões para ser responsável pelo CCT. Além da Cosan, o operador logístico também possui contratos com a Clealco e Brenco. De acordo com Fábio Velloso, diretor-executivo de operações e serviços da Julio Simões, até 2013 os três contratos vão representar cerca de R$ 550 milhões no faturamento da empresa.

Do lado da Cosan, Pedro Mizutani, vice-presidente geral da companhia, informou ao Valor que a decisão de terceirizar os serviços num formato de testes foi tomada no fim do ano passado. “Este é um serviço que não é expertise da usina. Então, vale a pena contratar empresas especializadas”, disse Mizutani. Segundo ele, se as empresas contratadas forem eficientes, a expectativa é de redução dos custos do grupo em até 10%. A companhia processa quase 60 milhões de toneladas de cana por ano.

Mizutani pondera também que a companhia reduz o investimento, mas eleva os custos operacionais, uma vez que tem de pagar pelo serviço terceirizado.

Tanto a Gafor como a Julio Simões atuam no segmento de papel e celulose. Consultadas pela reportagem, as duas companhias acreditam que há espaço para chegar ao mesmo nível de atuação no setor sucroalcooleiro. Para as empresas de papel e celulose, além do CCT, as duas prestam serviços de movimentação interna, armazenagem, transporte do produto acabado, entre outros.

A terceirização do CCT vem de encontro à redução da utilização de mão-de-obra na colheita de cana. A mecanização no Estado ! de São Paulo, maior produtor de cana do país, atingiu 49,6% do total da área plantada na safra 2008/09. “O índice deverá superar 50% nesta atual safra”, afirmou Antonio de Pádua Rodrigues, diretor-técnico da Unica (União da Indústria da Cana-de-Açúcar).

Segundo Pádua, os projetos de usinas “greenfield” (construção a partir do zero) já contemplam mecanização em quase 100% da área plantada. “Nos Estados onde esses projetos avançam, como os da região Centro-Oeste e Minas Gerais, a mecanização é maior”, diz.

O governo do Estado de São Paulo antecipou o fim da queima dos canaviais em áreas planas de 2021 para 2014 . Em áreas de declive, o fim das queimadas passou de 2031 para 2017. São Paulo tem apenas 5% de áreas com topografia acidentada. A decisão deverá favorecer o aumento da mecanização nos canaviais. “Isso vai abrir oportunidades para serviços terceirizados”, disse Pádua.

E é nesse mercado que os operadores logísticos pretendem ampliar presença. De acordo com ! Lissoni, da Gafor, o próximo passo das usinas será a terceirização do plantio e da preparação do solo. A divisão logística do grupo atua também nos segmentos de alimentos , químico, internacional e de cargas em geral.

“Desses, apostamos na agroindústria e no transporte internacional como os principais vetores de crescimento da empresa nos próximos anos”, afirmou o executivo, ao ressaltar que o mesmo tipo de serviço poderá ser prestado no curto prazo para a colheita da soja.

Outra usina que tem apostado na terceirização do CCT é a ETH Bioenergia, que pertence ao grupo Odebrecht. A empresa informou ter como parceiros a Ouro Verde e a Luft. Com a Luft, o contrato prevê apenas a locação de equipamentos para a colheita mecanizada.

Segundo Vladimir Donega, diretor comercial da Luft, a empresa ainda não entrou no CCT, mas isso deverá ocorrer em 2010. “Por enquanto o nosso forte é a aplicação de defensivos agrícolas”, disse Donega, ao informar que esse serviço para as us! inas significa um faturamento de R$ 10 milhões ao ano.