Favorecidos pela distribuição geográfica de suas atividades, grandes grupos de agronegócios elevaram a aposta no menor custo da biomassa produzida pela lenha para alcançar a auto-suficiência energética nos próximos anos.
“Começamos em 1985 a investir na biomassa, que nos últimos três anos está em alta. Hoje, já conseguimos uma redução da ordem de 40% nos nossos custos totais com energia, incluindo elétrica e térmica”, diz Wilson Santi, executivo da multinacional Cargill responsável pela área no país.
Ele lembra que os projetos com biomassa tiveram início na época da construção da unidade da empresa em Uberlândia (MG), que partiu com uma caldeira de biomassa e quebrou a tradição de uso apenas de óleo combustível nas unidades brasileiras.
Na época, contudo, a lenha era mais cara que o “fuel oil”, relação que só se inverteu três ou quatro anos depois, no fim da década de 1980. Mas a Cargill já investiu em fontes alternativas de energia em 1985. Na unidade de cacau de Ilhéus (BA), por exemplo, usava a casca do cacau, enquanto a planta paulista de suco de laranja era alimentada com bagaço de cana.
Fora essas duas unidades, afirma Santi, em meados da década de 1990 o óleo combustível respondia por 70% das necessidades energéticas das demais fábricas da Cargill no país – basicamente de soja -, enquanto a lenha respondia pelos demais 30%.
Com investimentos nas unidades de Ponta Grossa (PR) e em outras três fábricas, além da instalação de uma nova caldeira em Uberlândia em 2002, a biomassa passou a representar de 75% a 80% da demanda das unidades da múlti no Brasil. Segundo Santi, em média cada caldeira custa US$ 3,5 milhões e demanda 40 toneladas de madeira por hora. Para operar, uma fábrica processadora de soja com capacidade não muito superior a 1 mil toneladas por dia exige potência instalada de cerca de 5 megawatts (MW).
Para administrar sua estratégia energética, a Cargill conta há dois com a ajuda de um engenheiro florestal, responsável inclusive pelas relações com os fornecedores de lenha – muitos dos quais produtores de soja que destinam parte de suas fazendas para o plantio de eucalipto.
Santi explica que apenas no oeste da Bahia há produção de madeira em terras próprias. Nos demais casos, o abastecimento se dá por meio dos fornecedores terceirizados, que hoje somam 10 “parceiros”, com contratos de 14 anos e remuneração com base no rendimento das florestas.
“A tendência é ampliarmos o número de parceiros. Em seis ou sete anos, o objetivo é sermos atendidos com a produção de 30 mil hectares de florestas (em 2006 serão 6 mil), o que nos dará a auto-suficiência”. Para evitar exorbitantes custos de transportes, as áreas de plantio têm de estar no máximo em um raio de 70 quilômetros das unidades que usam lenha.
“A biomassa foi a melhor alternativa encontrada pelo setor, e esta aposta leva em conta aspectos econômicos, ambientais e de sustentabilidade, “, reitera Adalgiso Telles, diretor corporativo da Bunge Brasil, já uma tradicional usuária da lenha nas caldeiras de suas fábricas no país.
Em Cajati (SP), a unidade da divisão Bunge Fertilizantes é alimentada com lenha desde o início das operações, há mais de 70 anos. Hoje, a matéria-prima é produzida em uma área de 1,8 mil hectares reflorestados; em Araxá, outra fábrica da mesma divisão recebe lenha de 750 hectares reflorestados e foram plantadas 430 mil mudas de eucaliptos no ano passado.
Segundo Telles, quando se fala em lenha a Bunge trabalha de quatro maneiras: florestas próprias, contratos de fornecimento, financiamento a produtores e mercado spot – em todos os casos com comprovação de origem. Além disso, há programas de melhores práticas de reflorestamento e auditorias externas.
Na Bunge Fertilizantes, a auto-suficiência energética é quase uma realidade, sobretudo em virtude da utilização da lenha; na divisão Bunge Alimentos, que envolve o processamento de soja, a matriz energética é dividida entre lenha (85%), bagaço de cana (10%) e casca de arroz (5%). (FL)