Menos de um ano depois de comprar 57% da Fiagril, holding que atua como trading nas áreas de grãos e venda de insumos com sede em Mato Grosso, o grupo chinês Pengxin está prestes a fechar seu segundo negócio no Brasil: a aquisição de participação na paranaense Belagrícola. Segundo apurou o Valor, a negociação está em processo final de “due diligence” auditoria técnica e contábil dos ativos e deve ser anunciada nas próximas semanas.
Criada em 1985 por João Andreo Colofatti como uma pequena revenda de insumos de Londrina, a Belagrícola tornouse uma das cerealistas mais “redondas” do Paraná e, portanto, candidata visada para aquisição diante do momento de consolidação do setor e apetite externo por ativos brasileiros.
Além dos insumos, tornouse uma comercializadora regional de grãos relevante, ampliando sua atuação do norte do Paraná para São Paulo e, mais recentemente, para Santa Catarina. Em 2015 faturou R$ 3,1 bilhões e movimentou 2,6 milhões de toneladas de grãos.
Na outra ponta, o Pengxin um conglomerado que atua globalmente em setores como mineração, imobiliário e agricultura nunca escondeu sua intenção de avançar no país com novas aquisições através de seu braço agropecuário, o Dakang Pasture Farm, que faturou US$ 600 milhões em 2015. Até chegar ao Brasil, em meados do ano passado, o Dankang atuava com grãos, gado leiteiro e de corte na Bolívia, China e Nova Zelândia.
Em entrevista ao Valor, o boliviano Carlos Kempff, presidente da Fiagril nomeado pelos controladores chineses, não confirmou a negociação com a Belagrícola. Mas, questionado sobre eventuais novas aquisições no Brasil, reconheceu que a intenção do Pengxin é estar mais presente no país. “Estamos prontos para fechar outro negócio similar à Fiagril no curto prazo. Também estamos olhando para aumentar investimentos em logística e produção de semente”, disse. Pelo controle da Fiagril, o Pengxin desembolsou US$ 200 milhões.
O grupo chinês costuma ser ágil nas negociações. De acordo com Kempff, a velocidade com que o negócio entre os chineses e a Fiagril foi fechado no ano passado o impressionou. “Foi muito rápido. Nunca vi algo assim. Conhecemos a Fiagril em dezembro de 2015, em fevereiro já começou o processo de due diligence e em abril foi assinado o acordo”, relatou.
Procurada pela reportagem, a direção da Belagrícola afirmou que não comentaria a informação sobre a negociação com o Pengxin. Fontes ouvidas pelo Valor, no entanto, afirmam que representantes do grupo chinês já estão na companhia e que Kempff auxilia os processos até que os trabalhos de auditoria contábil se encerrem.
Segundo pessoas familiarizadas com a companhia chinesa, a tendência é que o grupo adquira participação majoritária na Belagrícola, mas não a totalidade das ações. “Os chineses não estão ainda confortáveis com o Brasil.
São recém chegados. O interesse é em controlar, e deixar que as famílias [brasileiras] continuem no dia a dia, fazendo o que sabem”, afirmou uma fonte, sob anonimato. Se mantiver na Belagrícola a mesma estratégia que adotou na Fiagril, o Pengxin também não deve promover mudanças na estrutura organizacional da empresa paranaense.
De acordo com o presidente da Fiagril, uma característica do grupo chinês é promover a boa governança corporativa, sem interferência direta. “Eles [os chineses] acreditam que é bom ter o conhecimento local”, disse.
A exemplo do que ocorreu com a Fiagril, a Belagrícola teve como marca a diversificação de seus negócios. Atualmente, a empresa tem 55 pontos de revenda e 38 unidades de recebimento, padronização e armazenagem, com capacidade estática de estocagem de 1,2 milhão de toneladas.
Mesmo bemestruturada, a crise políticoeconômica do país e a quebra da safra de milho no ciclo 2015/16 elevaram o endividamento da Belagrícola, que chegou a registrar dívida líquida de R$ 700 milhões no começo de 2016. A empresa paranaense ganhou novo fôlego após a aprovação de um financiamento de capital de giro com o IFC o braço de investimento para o setor privado do Banco Mundial e com outros cinco bancos. As operações totalizaram uma captação de US$ 95 milhões, mas a necessidade de crescimento abriu a possibilidade para novos investidores.
As informações são do Valor.