Mercado

Governo reduz etanol na gasolina

O governo decidiu segunda-feira reduzir a parcela do álcool anidro adicionado obrigatoriamente à gasolina vendida nos postos brasileiros de 25% para 20%. A medida terá validade de 90 dias, a partir de 1º de fevereiro. Problemas na safra de cana e redução na oferta têm encarecido o etanol, e em muitos estados, como no Rio de Janeiro, vale mais a pena abastecer o carro flex com gasolina.

O álcool é misturado à gasolina como uma forma de reduzir as emissões de monóxido de carbono geradas pela queima do combustível. Com isso, o preço da gasolina aos consumidores também estava sendo pressionado.

De acordo com o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, o corte de cinco pontos percentuais representaria cerca de 100 milhões de litros de etanol a mais disponíveis no mercado por mês, o equivalente a aproximadamente 7% do consumo dos veículos flex no período. A indústria, no entanto,! afirma que o impacto da medida seria pequeno.

A decisão foi tomada segunda-feira por meio de uma portaria dos ministérios da Agricultura, de Minas e Energia, da Fazenda e do Desenvolvimento. A portaria foi assinada pelos ministros que compõem o Conselho Interministerial do Açúcar e do Álcool (Cima): Reinhold Stephanes (Agricultura), Edson Lobão (Minas e Energia), Nelson Machado (Fazenda, interino) e Ivan Ramalho (Desenvolvimento, interino).

O governo pretende retomar o nível de 25% em maio, quando a safra da cana estará recuperada. Com objetivo de aliviar a pressão de demanda pelo produto, as usinas devem antecipar a colheita em um mês, para março.

A entressafra de cana-de-açúcar impactou mais o mercado este ano, por conta do forte crescimento do consumo do biocombustível. Além disso, problemas climáticos no centro-sul brasileiro resultaram em uma safra menor do que a esperada.

Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea ), da Esalq! -USP, o preço do etanol anidro em São Paulo atingiu R$ 1,2591 por litro (a retirar na usina e desconsiderando impostos), na semana passada. Esse é o maior valor (em termos reais, considerando a inflação) desde abril de 2006. Segundo o Cepea os preços baixos do produto na maior parte da safra acabaram impulsionando o consumo, reduzindo a disponibilidade na entressafra.

Parlamentares são contra

A redução do percentual de álcool anidro misturado na gasolina tem preocupado senadores. O presidente da Comissão de Meio Ambiente e Defesa do Consumidor, Renato Casagrande (PSB-ES), pretende realizar audiências públicas com representantes do governo e do setor sucroalcooleiro para debater os problemas enfrentados pela indústria do álcool e a necessidade de o país ter regras mais firmes nessa área.

– Esta mudança é ruim tanto do ponto de vista ambiental, porque aumenta a emissão de poluentes, quanto do ponto de vista econ! ômico, porque cria uma insegurança no setor – afirmou Casagrande.

O parlamentar acrescentou que o programa do álcool no Brasil como fonte alternativa ao petróleo está consolidado e, neste momento, o que é necessário é dar segurança ao setor e aos consumidores.

O senador Francisco Dornelles (PP-RJ), integrante da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), afirma que mudanças pontuais na política do álcool servem para criar intranquilidade no mercado produtor. Ele destacou que cabe ao Executivo definir “regras bem firmes” para evitar fatos como esse.

– Como o (preço do) álcool subiu demais, o governo tenta agora reduzir a sua participação na gasolina, o que aumenta o estoque e provoca a redução do preço – explicou Dornelles.