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Governo quer ter tecnologia para uso do hidrogênio

O governo pretende formular nos próximos seis meses um plano de política energética para a utilização de células de hidrogênio como combustível.

A idéia é debater com a comunidade científica e aperfeiçoar a participação brasileira no desenvolvimento dessa tecnologia, afirmou a secretária de petróleo e gás do Ministério de Minas e Energia, Maria das Graças Foster.

Comercialmente, a produção de baterias de hidrogênio só deve acontecer “em um horizonte de dez anos”, segundo a secretária. Foster lembrou que Estados Unidos, União Européia, China e Índia já desenvolvem pesquisas na área.

“Nós temos uma participação fundamental como detentores da tecnologia do etanol. O desafio está em gerar, de forma competitiva, o hidrogênio, a partir de fontes renováveis, como o álcool”, disse a secretária, que participou do seminário “Brasil e a Energia do Século XXI: Açúcar e Etanol”, realizado pelo Valor.

Essa é uma tecnologia que não emite gases poluentes, o que explica o interesse de países ricos, mas ainda não está madura, de acordo com a secretária do ministério.

Ela avisou que o governo brasileiro não vai esperar para tornar mais limpa a matriz energética para combustíveis de veículos e quer aumentar a participação do álcool, do gás natural e do biodiesel.

Atualmente, o óleo diesel responde por 57,7% de toda a matriz energética. A gasolina tem 27,45% e o álcool (anidro e hidratado) participa com 12,65%.

O gás natural possui só 2,2%. A idéia do governo é que o biodiesel, em um primeiro momento, e o hidrogênio também tenham participação crescente, embora não haja percentuais a serem perseguidos como meta.

Nos cálculos de Foster, uma safra de 350 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, como a brasileira, gera uma quantidade de combustível equivalente a 760 mil barris de petróleo por dia. O embaixador Mário Vilalva, diretor do Departamento de Promoção Comercial do Itamaraty, acrescentou que o desafio é viabilizar o álcool como uma commodity internacional.

De acordo com a secretária, o Brasil atingirá auto-suficiência na produção de petróleo em dezembro de 2005 ou em janeiro de 2006.

Ela afirmou que as perspectivas não mudaram com a aceleração do crescimento econômico, que aumenta o ritmo de expansão da demanda por combustíveis.

Maria das Graças Foster não demonstrou preocupação com notícias de estagnação na produção da Petrobras em 2004. Para a secretária, isso é reflexo de fatores específicos como “upgrades” de plataforma. Mas a auto-suficiência está assegurada, enfatizou.

O Ministério de Minas e Energia recebeu há dois meses uma proposta do setor sucro-alcooleiro para a geração de 7 mil megawatts (MW) de energia elétrica a partir do aproveitamento do bagaço de cana.

O plano foi apresentado pela União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), que pleiteia a elaboração de um programa nacional de bioeletricidade.

Os usineiros juram que isso é economicamente viável. Onório Kitayama, consultor da Unica, lembra que o barril do petróleo está em US$ 50 e o potencial hidrelétrico concentra-se em regiões remotas, como a Amazônia, que demandam linhas de transmissão.

O custo da energia gerada a partir da biomassa de cana é de US$ 600 a US$ 700 por kilowatt, enquanto o gasto com energia térmica supera US$ 1 mil por kilowatt, argumenta Kitayama.

“É preciso romper a barreira cultural e dar uma primeira motivação, com uma política de benefícios decrescentes”, afirmou. As usinas de açúcar e álcool já se alimentam com a energia vinda do bagaço de cana, o que dá cerca de 2 mil MW, e têm mais 620 MW de excedente.

A Unica recebeu de forma positiva a derrubada das emendas, na medida provisória que institui a mistura não-compulsória de 2% de biodiesel, que daria poderes à Agência Nacional de Petróleo (ANP) para regulamentar a comercialização de etanol. A MP foi aprovada na quarta-feira.