O governo jogou a toalha e já admite oficialmente a previsão de queda do consumo de energia em 2016, na comparação com 2015, consolidando dois anos seguidos de queda da demanda, devido à deterioração do cenário econômico do país. Com relação ao mercado de combustíveis, o governo espera recuo do mercado de diesel, que possui variação a mais atrelada ao PIB, e estabilidade no consumo de combustíveis do chamado “Ciclo Otto” (gasolina, etanol e gás natural).
O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) projetam queda de 2,4% da carga (consumo mais perdas) no sistema este ano, para 64.573 megawatts (MW) médios. Para 2017, as duas instituições reduziram a estimativa de crescimento, de 3,6% para 2,5%.
Para o período 2015-2020, a previsão de crescimento também recuou, passando de um aumento médio de 2,9% ao ano para uma alta média de 2,7% ao ano. Segundo as duas instituições, as revisões se devem à deterioração da conjuntura econômica e seus impactos para o médio prazo. Elas ampliaram a previsão de queda do PIB este ano, passando de um recuo de 2% para uma retração de 3%.
Para Pedro Machado, sócio-diretor da consultoria GV Energy, além da já esperada queda de consumo no setor industrial, destaca-se o péssimo desempenho dos segmentos residencial e comercial, que até então resistiam à crise. “Nossa equipe acredita que o residencial e o comercial sofrerão quedas e se juntarão ao já combalido e decrescente consumo da indústria em 2016”, disse. A GV Energy projeta uma queda de 1,6% do consumo de energia no país em 2016.
Já a consultoria Thymos Energia estima uma queda de 0,4% do consumo este ano. Devido ao desligamento de mais térmicas e à manutenção da bandeira tarifária verde, a Thymos prevê um crescimento tarifário médio em 2016 de apenas 3%, abaixo da inflação do período.
No mercado de combustíveis, a previsão é que as vendas de diesel voltem a cair este ano, caso se confirme a expectativa de recuo do PIB. “O diesel é o [combustível] que está mais atrelado ao PIB. Então, se o PIB continuar caindo, o diesel tende a acompanhar”, afirmou o superintendente-adjunto de abastecimento da Agência Nacional de Petróleo (ANP), Rubens Freitas, em março, durante apresentação dos resultados das vendas de distribuidoras de combustíveis em 2015.
Ainda de acordo com a análise apresentada pelo superintendente, na ocasião, o consumo de combustíveis Ciclo Otto (gasolina, etanol e gás natural veicular) deve se manter estável em 2016.
No longo prazo, a expectativa é que a estabilidade se mantenha na comercialização de gasolina. Segundo o diretor de estudos do petróleo, gás e biocombustíveis da EPE, Gelson Serva, a estatal já trabalha com a previsão de que a média do consumo de gasolina A (sem a adição de etanol anidro) se mantenha estável ao longo dos próximos dez anos.
Esse novo cenário, influenciado pelo menor crescimento da frota de veículos leves e menor aumento da economia no longo prazo, deve ser divulgado no plano decenal 2016-2025, ainda sem previsão de divulgação. No último planejamento da EPE, havia uma expectativa de crescimento de 1,3% ao ano no consumo do combustível.
“Já vislumbramos uma estabilização da demanda. A nossa expectativa preliminar aponta para uma tendência de que não teríamos mais déficit de gasolina ao fim desse período decenal”, disse o diretor ao Valor, na semana passada.
Para o diretor, um eventual aumento do consumo de combustível pelos veículos leves seria suprido pelo aumento da produção de etanol, que deve ampliar sua participação na matriz. O novo plano decenal deve projetar também uma redução no ritmo de crescimento do consumo de diesel A (não misturado ao biodiesel). O último plano da EPE previa um crescimento de 2,5% ao ano nas vendas do derivado.
Já no mercado de gás natural, a avaliação da Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás) é que o consumo deve novamente cair este ano, diante das expectativas de menor despacho termelétrico e de nova retração na economia.
Fonte: (Valor)