Os esforços do governo brasileiro para tornar o etanol mais competitivo estão sendo benéficos para o setor, mas é preciso criar mais estímulos aos investimentos e ampliar a participação do biocombustível no mercado de combustíveis, disse um importante analista setorial na sexta-feira.
O analista Marcos Jank, ex-presidente da União da Indústria de Cana de Açúcar (Unica), disse que, para atrair investimentos, o governo precisa principalmente acabar com a política de preço fixo da gasolina, que dificulta a concorrência do etanol.
“O que está acontecendo hoje são medidas paliativas para atenuar a crise e elevar o lucro dos produtores, mas eles não criam incentivos para novos investimentos”, disse Jank a pesquisadores na Embrapa em Brasília.
“Para gerar interesse por investimentos, você precisa ter mais políticas públicas” que ajudem potenciais investidores a fazerem uma leitura de longo prazo do potencial do mercado, disse Jank.
O governo elevou no final de janeiro o preço da gasolina e determinou que a partir de 1o de maio a mistura de etanol na gasolina suba de 20 para 25 por cento, o que aumenta a competitividade do álcool e sua participação no mercado, favorecendo as usinas.
Mas Jank disse que o governo pode ajudar mais o etanol se restaurar a Cide (contribuição de intervenção no domínio econômico), um imposto de 0,28 real por litro de gasolina. Segundo ele, isso seria justificável por causa da poluição atmosférica e do maior dano à saúde humana causados pelas emissões de combustíveis fósseis.
O analista disse que o setor dependerá futuramente de pesquisas científicas de instituições como a Embrapa para melhorar sua produtividade e eficiência. Ele disse que o rendimento por hectare tem potencial para quadruplicar até 2025, caso sejam usadas todas as tecnologias de processamento da cana que se espera que fiquem disponíveis até lá, incluindo o etanol de segunda geração.
“(A pesquisa) é a única saída em longo prazo. O resto é paliativo, especialmente quando você tem o petróleo de xisto e o gás de xisto”, disse ele, referindo-se a uma nova tecnologia para a extração de combustíveis fósseis a custo menor.
A indústria brasileira de biocombustível, em operação desde a década de 1970, ganhou impulso em 2003 com o lançamento dos veículos flex, mas o aumento do custo de produção do etanol fez com que nos últimos anos essa alternativa, menos poluente, seja menos vantajosa do que a gasolina.