Howard Geller elogia atuação do Brasil na produção de álcool, mas diz que país não aproveitou potencial para energia eólica
O governo brasileiro não tem tratado a eficiência energética como questão prioritária, apesar de ter tomado medidas favoráveis nos últimos anos. Essa é a avaliação de Howard Geller, especialista na área e um dos colaboradores do Procel (Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica), criado na década de 80 pela Eletrobrás.
Geller é diretor-executivo de uma organização sem fins lucrativos chamada Sweep (sigla em inglês de Projeto de Eficiência Energética do Sudoeste), que coordena programas nessa área no Arizona, no Colorado, em Nevada, no Novo México, em Utah e em Wyoming. Ele conversou com a Folha após participar de seminário promovido pela Coppe/UFRJ.
Segundo o especialista, os esforços brasileiros para aumentar a eficiência energética não foram contínuos. “A eficiência energética não é sexy. Você não tem grandes projetos nem fortes interesses econômicos como tem por trás da construção de grandes plantas hidrelétricas ou térmicas. Não há uma eficiência “energeticabras” [em alusão à Petrobras]”, disse.
De acordo com Geller, não é o tipo de solução discutida em período de crises e exige apoio constante ano após ano, além de políticas educativas e mudança de hábitos de consumo.
Em sua página na internet, a Eletrobrás informa que o Procel já economizou 22 bilhões de quilowatts-hora em 20 anos de existência, o equivalente ao consumo do Estado da Bahia por um ano. Além disso, a estatal afirma ter investido na capacitação de 16 laboratórios para estudos e pesquisas sobre eficiência energética em 13 universidades no ano passado.
O equilíbrio do investimento em energias renováveis e na eficiência energética poderia garantir uma taxa de crescimento da demanda energética em nível moderado, na avaliação do especialista. “O Brasil vai precisar de mais energia por causa da pobreza e da necessidade de desenvolvimento econômico, mas, em vez de crescer o consumo a um ritmo de 4% a 5% ao ano, poderia crescer a 2% ou 3% com medidas para melhorar a eficiência.”
Geller elogiou a atuação do Brasil na produção de álcool a partir da cana-de-açúcar, mas lamentou que o país não tenha aproveitado melhor seu potencial para geração de energia eólica. Além disso, afirmou que existem formas mais em conta para aumentar a geração de energia do que a retomada do programa nuclear brasileiro.
EUA
Apesar de crítico à política energética do governo Bush, Geller afirma que Estados e cidades têm adotado políticas de mudança nos hábitos de consumo. Segundo ele, existem mais de 300 cidades americanas comprometidas com as diretrizes do Protocolo de Kyoto.
Geller afirma que os setores de utilidades eletrônicas estão gastando mais de US$ 2 bilhões por ano em programas de eficiência energética como resultado de políticas estaduais.
Mesmo Estados conservadores, como Utah, estão se adaptando a uma nova forma de uso da energia. No ano passado, o governo adotou uma meta de 20% de melhora da eficiência energética, que incluiu o consumo de energia, gás natural, gasolina e abrange também as regras para novas construções residenciais e comerciais. Com políticas federais similares, o país poderia reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 50% até o ano de 2050.