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Governo faz acordo para liberar transgênicos

Com muita dificuldade, o governo fez um acordo para viabilizar a aprovação do projeto de lei da Biossegurança na Câmara dos Deputados. O relator Renildo Calheiros (PCdoB-PE) fez alterações importantes no projeto anterior, do ex-líder do governo e atual ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, provocando reações da oposição e, principalmente, da bancada ruralista, que ameaçou votar contra o projeto.

O trabalho de convencimento da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, foi fundamental para que o projeto fosse mudado pelo relator. O projeto foi a plenário às 21h45, mas até o fechamento desta edição a votação não tinha sido concluída.

Renildo Calheiros se encontrou com a ministra Marina Silva pelo menos três vezes nos últimos dois dias. A ministra também telefonou para todas as lideranças no Congresso e manteve contatos com o palácio do Planalto para que as mudanças no projeto pudessem ter o apoio necessário para ser aprovado.

A ministra cedeu em relação à pesquisa, reconhecendo que a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) poderia ter amplos poderes para aprovar os projetos, mas manteve-se irredutível em relação à necessidade de se conceder licença ambiental para projetos de caráter comercial envolvendo transgênicos.

Calheiros manteve os poderes da CTNBio para aprovar projetos de pesquisa envolvendo organismos geneticamente modificados, uma bandeira da comunidade científica, mas reincorporou ao projeto a prerrogativa do ministério do Meio Ambiente para conceder licença ambiental a projetos de caráter comercial. Com isso, qualquer projeto envolvendo a produção em larga escala para comercialização de transgênicos teria que passar pelo crivo do Ibama. A bancada que representa os produtores rurais reclamou e ameaçou rejeitar o projeto na Comissão Especial.

“Ninguém vai investir em pesquisa se não tiver a garantia de poder comercializar depois. Essa discussão é ideológica dentro do governo e isso nós não vamos admitir”, reclamou o deputado Abelardo Lupion (PFL-PR), da bancada ruralista.

Para evitar que os ruralistas derrotassem o projeto de Calheiros na comissão, o presidente da Câmara, deputado João Paulo, negociou o encerramento dos trabalhos da comissão sem a votação do parecer, que seguiria direto para votação em plenário, onde o governo tem maioria. Começou então uma grande negociação para aprovar o projeto envolvendo, inclusive, os ministros da Agricultura, Roberto Rodrigues, e da Articulação Política, Aldo Rebelo, que foram ao Congresso discutir com as lideranças. No início da noite, os ruralistas já acenavam votar a favor do projeto de Calheiros, mas pediram em troca a prorrogação, por um ano, da Medida Provisória que permitiu o plantio e a comercialização da produção de soja geneticamente modificada colhida na temporada 2002/03.

Com a prorrogação, os produtores de soja poderiam plantar este ano uma nova safra de soja transgênica. Lideranças do governo que participaram das conversas, no gabinete da presidência da Câmara, confirmaram que o governo vai estudar a idéia. Até o fechamento desta edição, o projeto do relator Renildo Calheiros não tinha entrado em votação no plenário da Câmara dos Deputados.