A visita do governador da Flórida, Charlie Crist, ao Brasil esta semana não foi apenas uma missão comercial. Na verdade, fez parte do que ele chama de uma “jornada” muito maior de descoberta de um admirável mundo novo em que os biocombustíveis verdes podem tornar o planeta um lugar melhor.
“Estamos forjando novos horizontes, e um bem maior sairá disso porque nos tornaremos mais independentes e mais livres para proteger e salvar a democracia”, disse Crist a uma reunião de empresários nesta cidade de 20 milhões de habitantes.
Apesar de às vezes parecer um evangelista ambiental “fazendo o trabalho de Deus”, a viagem de Crist também teve a ver com realidades empresariais práticas. Além de cimentar as relações com o maior parceiro comercial da Flórida, Crist espera que esta viagem o ajude a definir uma visão para o futuro energético de seu estado. “O Brasil é o melhor exemplo que temos para aprender no planeta.”
Como todas as jornadas, a missão de Crist teve alguns percalços. O clima ruim impediu que seu avião pousasse para uma visita à maior usina de açúcar do mundo, Barra Bonita, perto de São Paulo.
Mesmo assim, ele parece ter voltado com algumas das respostas que procurava. Disse à imprensa que hoje não tem dúvidas sobre os benefícios dos biocombustíveis para o meio ambiente. Mas a Flórida está em “etapas muito iniciais” do desenvolvimento de uma política estadual de biocombustíveis, disse Crist. Ele apóia um projeto estadual para misturar etanol à gasolina, mas ainda não decidiu como ou quando deve ser implementado.
“Eu quero acelerar. Quero promover o etanol”, ele disse. “É melhor cedo do que tarde.”
Enquanto Crist se destaca pelo entusiasmo, alguns céticos questionam quão realistas são suas idéias. O Brasil e os EUA são os dois maiores produtores de etanol do mundo, com uma produção combinada anual de 12 bilhões de galões (mais de 45 bilhões de litros), representando mais de 70% da capacidade global.
A Flórida não produz etanol e não tem oleodutos com o resto do país. Em vez disso, 99% de seu combustível é entregue por navios nos portos, principalmente Tampa, Port Everglades e Jacksonville. Especialistas dizem que seria mais barato e mais fácil importar o etanol de cana-de-açúcar barato do Brasil do que o etanol mais caro do Cinturão do Milho no centro-oeste americano.
Mas as importações de etanol do Brasil enfrentam uma tarifa federal proibitiva até pelo menos janeiro de 2010. Crist falou contra a tarifa na segunda-feira, dizendo que faria pressão ativa para sua remoção.
As autoridades estaduais da Agricultura acreditam que a Flórida poderia produzir até 40% de suas necessidades de biocombustíveis, usando a emergente tecnologia de etanol de celulose, que pode fazer combustível de quase qualquer planta, incluindo casca de cítricos, lascas de madeira e bagaço de cana. Vários projetos estão a caminho, mas as operações comerciais ainda estão distantes.
“Precisamos administrar as expectativas”, disse George Philippidis, um engenheiro petroquímico da Universidade Internacional da Flórida que é um dos principais especialistas locais em biocombustíveis. A tecnologia de celulose está a pelo menos cinco anos da realidade comercial, ele disse.
A maneira mais barata e rápida de suprir a demanda potencial de etanol da Flórida seria investir na expansão da capacidade excedente das refinarias brasileiras, disse Philippidis. “Haverá uma reação muito rápida quando o mercado americano se abrir.”
Mas substituir 10% do consumo anual de gasolina da Flórida exigiria 860 milhões de galões de etanol, quase um quinto da produção atual do Brasil.
As companhias americanas novatas em biocombustíveis, como a Envirofuels de Tampa, são contrárias à remoção da tarifa, temendo que o etanol brasileiro barato inunde o mercado e sufoque os investimentos na produção local.