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GM anuncia parceria para etanol

Carrões ainda dão o tom na principal mostra internacional de veículos, o Salão Internacional do Automóvel da América do Norte (Naias), mas a preocupação com o que vai mover esses carros, tendo em vista problemas ambientais e o preço da gasolina, leva as montadoras a investir em projetos de combustíveis alternativos.

A General Motors anunciou ontem inédita parceria com a empresa americana Coskata para o desenvolvimento de etanol derivado de diferentes matérias-primas, como resíduos agrícolas, pneus e até lixo. Um dos objetivos é escapar da polêmica sobre a possível escassez de alimentos no mundo com o uso crescente do milho para produzir etanol.

Segundo analistas do setor automobilístico, é a primeira vez que uma montadora se envolve diretamente no processo de produção de um combustível. A Coskata vai desenvolver a tecnologia e também produzirá o novo combustível.

“Estamos entusiasmados sobre esse projeto, que significará a viabilidade do biocombustível e, mais importante, ajudará a reduzir nossa dependência do petróleo”, disse o presidente mundial da GM, Rick Wagoner. O preço do galão da gasolina já passa de US$ 3, muito elevado até para o padrão americano.

A Ford apresentou o programa EcoBoost, um conceito que diminuiu as cilindradas dos motores dos carros sem alterar a potência. Um carro com motor V8, por exemplo, terá o mesmo desempenho se usar um motor V6. Cada cilindrada a menos significa corte de cerca de 0,7% no consumo de combustível.

Os EUA abrigam a maior frota mundial de veículos, mas têm apenas 7 milhões de carros flex, movidos com uma mistura de 85% de álcool (produzido do milho) e 15% de gasolina. O abastecimento é restrito, pois menos de 1% dos 170 mil postos espalhados pelo país oferecem o E85, como é chamada a mistura.

O presidente da Coskata, Bill Roe, disse que a primeira produção em grande escala de etanol alternativo – entre 50 a 100 milhões de galões -, deverá ocorrer em 2011. Mas, no fim deste ano, as primeiras amostras do produto serão entregues para a GM realizar testes em veículos.

A GM, segundo Wagoner, também seguirá investindo no desenvolvimento de veículos elétricos (como o Volt) e híbridos, mas essas soluções são mais para médio e longo prazos. O etanol é a solução para o curto prazo. “Não há dúvidas em minha mente de que oferecer etanol a custo mais viável e maior disponibilidade é a mais efetiva solução para a questão ambiental”, afirmou Wagoner. “E é uma ação que pode ser feita imediatamente.”

O Salão de Detroit, realizado anualmente no coração da indústria automobilística dos EUA, será aberto ao público dia 19. As apresentações realizadas ontem, hoje e amanhã são exclusivas para a imprensa do mundo todo. A mostra tem cerca de 750 carros, dos quais 50 são lançamentos mundiais.

A crise das três principais empresas americanas, GM, Ford e Chrysler, que perderam suas posições de liderança para marcas asiáticas, especialmente a Toyota, não tirou o brilho do evento.

Mas nenhum dos executivos esconde que 2008 deve ser o pior ano da década para a indústria de carros nos EUA, com vendas próximas a 15,5 milhões de unidades. Diante desse quadro, crescer fora dos EUA virou prioridade para a maioria das companhias. “Hoje, 10% das nossas vendas são para países fora dos EUA, e queremos dobrar essa participação”, afirmou o vice-presidente internacional de vendas e marketing da Chrysler, Michael Manley.

Recém-separada da Mercedes-Benz na joint venture que havia criado a DaimlerChrysler, a companhia busca outras parcerias e acaba de fechar acordo com a Nissan para a produção, no México, de um automóvel destinado ao mercado brasileiro. (Cleide Silva)