O mercado do agronegócio em 2005, em especial da soja, terá, para os produtores e exportadores brasileiros, um enfoque diferente do dos anos anteriores: a preocupação maior em evitar perdas com a logística do transporte, desde a armazenagem dos grãos até o embarque nos navios. “O produtor terá que investir na gestão da logística para reduzir ao máximo as suas perdas, já que o preço da soja deve chegar em abril ou maio a US$ 4,50/bushel, menos da metade que no mesmo período do ano passado”, diz o analista internacional Alvaro Ancêde, diretor da consultoria The Laifa Group, de Chicago. A alta produtividade e a diminuição do preço da soja – hoje está em cerca de US$ 5,30/bushel (US$ 12, a saca), contra US$ 7,00/bushel no mesmo período do ano passado – vão exigir dos produtores um cuidado maior para evitar as perdas, vender na hora certa e não deixar muito produto armazenado esperando uma melhor cotação. Até agora, só foi exportado o equivalente a 3% da soja exportada pelo Brasil no mesmo período de 2004.
A preocupação com a gestão da logística foi comprovada no final da semana passada, em Curitiba, durante o III Seminário CBL Soja – Edição Logística. Mais de 300 pessoas de todo o país – desde o produtor até o exportador, passando pelas cooperativas, corretoras, traders, bolsa de mercadorias e futuros, portos – estiveram reunidos no evento que foi o primeiro com o objetivo de discutir a gestão da logística como forma de melhorar a rentabilidade do agronegócio. “Essa discussão é fundamental porque estamos expondo um problema visível mas evitável, da falta de planejamento para o escoamento da produção”, diz Anderson Fumagalli, diretor presidente do Grupo Interalli, do qual faz parte a Companhia Brasileira de Logística (CBL).
Um dos terminais privados do Corredor de Exportação do Porto de Paranaguá, a CBL investiu nos últimos três anos R$ 18 milhões, para melhorar as condições de logística para os clientes. Com isso, em 2004, a CBL aumentou em 22% a sua participação na movimentação do Porto de Paranaguá. “Embora pouco abordada, a logística deve ser prioritária como instrumento de recuperação de margens no agronegócio, em especial nesta época de alta produtividade e de redução do preço da soja e dos grãos em geral no mercado”, diz Washington Viana, gerente geral da CBL. Mesmo com a seca que atinge o Rio Grande do Sul e o oeste do Paraná, a previsão é de safra recorde, ultrapassando as 130 milhões de toneladas em 2005.
A armazenagem e o transporte estão entre as principais preocupações para essa safra. Estudo da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) mostra que as perdas anuais na cadeia produtiva de milho, trigo, soja, arroz e feijão chegam a US$ 1,34 bilhão. Desse total, US$ 1 bilhão é apenas em transporte e armazenagem. “O armazenamento, transporte, a situação das estradas e dos portos são os problemas para o escoamento da safra”, diz o secretário de programas especiais da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Pedro Beskow. A capacidade instalada de armazenagem no Brasil é de 100,6 milhões de toneladas (69% armazéns privados, 7% públicos, 24% cooperativas), para uma safra estimada de 131 milhões de toneladas. Para diminuir o problema do espaço para estocar a safra, a Conab vai investir R$ 7 milhões neste ano nos armazéns públicos, além de fazer programas de incentivo e de certificação para os armazéns privados. “A armazenagem é o início da logística da exportação da nossa safra e por isso damos atenção especial a ela”, afirma Beskow.
Ele, assim como Alvaro Ancêde, foram palestrantes do seminário, que também teve na pauta os assuntos Transporte Marítimo, Ferroviário e Rodoviário, discutindo desde a condição das rodovias, passando pela melhor utilização dos trens até o afretamento dos navios. “Conseguir em um mesmo lugar reunir especialistas para falar sobre as perspectivas da produção, a infra-estrutura e todas as questões vinculadas ao transporte foi fundamental para traçar as metas para este ano”, disse o gerente administrativo da Bunge em Santa Catarina, José Hilário Melato.
O escoamento da safra com menos filas é possível com a discussão e investimento nos diferentes tipos de transporte. “O produtor precisa ter as alternativas possíveis para transportar a sua produção de um ponto a outro no menor tempo possível e com o menor custo”, lembra Washington Viana, da CBL.
Em 2004, toda a cadeia logística brasileira faturou US$ 100 bilhões, o que corresponde a 15% do PIB. As exportações agrícolas estão entre as principais responsáveis pelo número, chegando a US$ 18 bilhões, ou seja, 3% do PIB. E a expectativa para este ano é que o faturamento global da área de logística chegue a US$ 112 bilhões.