Não foi à toa que o presidente George Bush alertou em seu pronunciamento anual O Estado da União, terça-feira passada, sobre o “vício americano em petróleo”, anunciando que o país vai investir em carvão, hidrogênio, energia nuclear, solar, eólica e também em álcool. Em discurso no dia 19 de janeiro, em seminário sobre pequenos empreendimentos, no Estado da Virgínia, Bush já havia enfatizado que os EUA precisavam fazer algo, rapidamente, em relação a fontes de energia. E mencionou especificamente o Brasil, como exemplo. “No Brasil, eles conseguem enormes quantidades de energia da cana-de-açúcar. Seus automóveis são flexfuel. As alternativas estão aparecendo. E nosso papel é encorajar essas novas tecnologias, buscando ser menos dependentes de fontes externas.”
O ministro Luiz Furlan tem uma explicação para essa menção de Bush. “No primeiro encontro do presidente americano com o presidente Lula, em 2003, na Casa Branca, ele já havia demonstrado interesse pelo etanol”, contou ontem a esta coluna, lembrando que aproveitou para destacar a dificuldade que o Brasil tem de entrar no mercado americano: o etanol paga 2,5% de imposto mais US$ 0,54 por galão, o que, conforme a cotação do dólar, pode significar 60% a 70% do preço do produto. Três meses depois, na ONU, o presidente Bush, ao encontrar o presidente Lula e os ministros Furlan e Celso Amorim, no corredor atrás do plenário, mostrou excelente memória. Disse a Furlan que ele tinha razão quanto à distorção do preço.
Agora, em dezembro, quando visitou rapidamente o Brasil, Bush voltou ao tema durante almoço em Brasília e destacou seu secretário de Segurança para trocar uma idéia com os ministros Luiz Furlan e Roberto Rodrigues, sentados à mesma mesa. “Os EUA se preocupam com o fato de depender de energia comprada em áreas de turbulência política”, destaca Furlan, que fez ali uma longa defesa das vantagens do etanol de cana versus o de milho, como fonte de energia alternativa. Custo menor, cultura de seis anos (o milho tem que ser replantado a cada ano) e subprodutos. Grosso modo, o milho exige subsídios em toda a cadeia, criando problemas de meio ambiente e com a UE. No caso da cana, o subproduto, o bagaço, é uma segunda fonte de energia e há a vantagem de se comercializar os créditos de carbono.
Mas quais as vantagens que o Brasil teria caso os EUA entrassem firme no etanol? Temos exclusividade nessa tecnologia? “Não precisamos dessa exclusividade. Tanto assim que a oferecemos grátis, em abril, em um encontro na Califórnia, com 34 governadores americanos. Estou convencido de que estimular a produção mundial é beneficiar o Brasil”, diz Furlan, que acredita que o Brasil, em cinco a dez anos, poderá duplicar a produção de etanol. “A Petrobrás, que tinha resistências em relação à alternativa, anunciou semana passada a construção de um duto em Goiás para transporte de etanol. E a Braspetro está interessada em construir um porto para escoar a produção. É só melhorarmos nossa infra-estrutura, como fizeram no suco de laranja, para que nossas exportações cresçam.”