Os efeitos do furacão Katrina, que atingiu nesta semana o sul dos EUA, devem elevar a demanda por produtos brasileiros e as cotações no mercado. Elevações no preço de commoditties agrícolas -que tiveram sua produção ou seu escoamento prejudicados nos Estados Unidos devido ao desastre- devem, por conseqüência, ajudar o agricultor brasileiro.
Crescem também os resultados da exportação de produtos brasileiros que ajudarão na reconstrução de cidades afetadas.
Além disso, o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, discute no governo a possibilidade de o país fornecer etanol brasileiro para abastecer o mercado de combustíveis dos Estados Unidos. O ministro comentou sobre essa questão durante visita a Genebra, onde aconteceu uma reunião entre países da União Européia e do Mercosul.
A exportação do etanol deve ser debatida durante a viagem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fará aos EUA neste mês.
O Brasil produz etanol combustível de dois tipos: hidratado e anidro. Furlan não especificou qual poderá ser exportado, mas o hidratado é utilizado em veículos a álcool e bicombustíveis.
Após o efeito devastador do furacão, o preço do petróleo disparou no mercado internacional, e a Casa Branca pediu que os americanos economizassem no consumo de gasolina.
Dois reservatórios -que continham 2 milhões de barris de petróleo- localizados próximos ao rio Mississippi foram danificados, e o petróleo vazou na sexta-feira.
Outros efeitos
Forte exportadora de algodão -metade dos embarques nos Estados Unidos saem de lá-, a cidade de Nova Orleans está com o porto parado desde a última quarta-feira. O que houve, como reflexo disso, foi um aumento abrupto na cotação do produto na Bolsa de Chicago.
Especula-se que o Brasil, maior produtor mundial de algodão, possa ganhar terreno no exterior com esse cenário.
Atualmente, os EUA exportam um quarto de sua produção algodoeira. Estima-se que de 25% a 30% das “maçãs” (onde fica a pluma do algodão) foram levadas pelas águas nos Estados afetados pelo furacão. Quanto menor a oferta de um produto, maior o preço, e a cotação tende a subir.
“A indústria internacional que precisa do produto fechou contratos a preços mais salgados por temer uma disparada. Isso teve efeito imediato para alguns produtores brasileiros”, diz Miguel Biegai, analista da consultoria Safras & Mercado. “De qualquer forma, essa elevação na cotação do produto pelo efeito Katrina ocorreu em cima de valores muitos baixos, porque o preço estava defasado”, afirma. O produto está com preços achatados por causa do excesso de oferta no mundo.
Uma elevação pode ajudar porque, no Brasil, o câmbio desfavorável à exportação tem complicado o fechamento das contas da lavoura. Quanto mais valorizado o real diante do dólar, menos recursos o exportador no país recebe pela venda.
Na sexta-feira, o algodão fechou o dia cotado a US$ 0,49 por libra-peso na Bolsa de Chicago. Na semana passada, a cotação estava em US$ 0,48.
Com a soja e o café há fortes instabilidades nas cotações, fruto da especulação do mercado. Calcula-se que 50% dos grãos de soja produzidos no EUA passem pelo porto de Nova Orleans.
Na Bolsa de Chicago, os contratos para a entrega do grão no mês de novembro, por exemplo, subiram no final da semana passada pouco mais de US$ 0,08 em relação aos valores da semana anterior. Eles atingiram US$ 6,07 por bushel (um bushel tem 27,2 quilos). O Brasil é o maior exportador de soja do mundo.
Os negociadores de contrato informaram a Folha de que o fator principal para a subida é o temor de que embarques nos EUA sejam comprometidos pelo Katrina. Esse, porém, é um medo recente. No início da semana, os analistas no Brasil não citavam o furacão como fator de influência nas negociações do produto.
No entanto, na avaliação de Odisséia dos Santos, da consultoria Safras, a perda do valor do dólar em relação ao real pode ter impacto negativo numa eventual recuperação na cotação da soja. “Há um sobe-e-desce no preço do produto, mas ainda existem alguns fatores “baixistas” que podem ter reflexo num eventual ganho, como o câmbio”, afirma.
Madeira para construção
Como reflexo do trabalho de reconstrução das regiões afetadas pelo furacão no Mississippi e em Lousiana, cresceu a demanda pela madeira compensada brasileira nos Estados Unidos.
Segundo a Abimci (Associação Brasileira da Indústria de Madeira Compensada Mecanicamente), o período com contratos fechados para a entrega na Costa Leste americana dobrou e atingiu quatro semanas. A alta foi verificada nos últimos sete dias.
Deve ser entregue ao mercado americano 1 milhão de metros cúbicos da madeira em 2005, um volume 25% maior do que o previsto pela associação antes do furacão. O país ainda participa com uma parcela muito pequena, cerca de 4%, do mercado mundial de produtos florestais . De 1991 a 2004, o crescimento das exportações de produtos florestais brasileiros foi de 11% ao ano.