A gripe aviária contribuiu para segurar a inflação em março, mas não evitou uma alta de 0,43% no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), provocada pelos reajustes nos combustíveis. Em fevereiro, a taxa foi de 0,41%. Álcool e gasolina contribuíram, sozinhos, com 0,29 ponto, ou 67% do índice de março.
Os dados divulgados ontem pelo IBGE vieram dentro das estimativas dos analistas e confirmaram a convergência da inflação em direção à meta de 4,5% estipulada para este ano pelo BC. No acumulado de 12 meses, o IPCA, referência para as metas de inflação do governo, recuou mais uma vez, para 5,32% até março (a menor variação desde maio de 2004), ante 5,51% em fevereiro.
O frango caiu 12,15% em março, com contribuição de -0,10 ponto sobre a taxa total. O recuo é provocado pela gripe aviária, que tem feito despencar as exportações de frango e levado a um excesso de oferta do produto internamente, com deflação do produto.
Ontem, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, estimou que o comércio mundial de carne de frango tenha retraído entre 20% e 25%, por causa da gripe aviária. Segundo ele, essa queda levou as indústrias brasileiras a reordenarem o produto para o mercado interno, vendendo carne de frango com prejuízo.
A coordenadora de Índices de Preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos, disse que a inflação de março apresentou característica semelhante à de fevereiro, pois em ambos os meses a alta esteve muito concentrada em poucos produtos. Em fevereiro, foram as mensalidades escolares e, em março, os combustíveis. A gasolina apresentou alta de 2,78% e o álcool, de 12,85%.
Segundo Eulina, por causa do fenômeno, observado nos dois meses, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) talvez mostre com mais nitidez o comportamento da inflação para os brasileiros.
O INPC, que mede a inflação para a camada de renda mais baixa (um a oito salários mínimos) da população, registrou variação de 0,23% em fevereiro (IPCA de 0,41%) e de 0,27% em março (IPCA de 0,43%). Isso ocorreu porque as mensalidades escolares e os combustíveis têm peso reduzido no índice e, ao contrário, os produtos alimentícios, que registraram deflação nos dois meses, têm maior peso no INPC.
Liderados pelo frango, que tem forte peso na despesa das famílias, o grupo dos produtos alimentícios registrou deflação (-0,24%) em março. Segundo Eulina, o câmbio contribuiu mais uma vez para segurar a inflação, sobretudo nos alimentos. Nos alimentos como um todo, o efeito câmbio permanece de maneira forte. Com a comida em queda e a maior parte dos preços administrados ou monitorados pelo governo sob controle, a inflação no primeiro trimestre acumulou alta de 1,44%.
Nos mesmo período de 2005 ela foi de 1,79%.
Os combustíveis foram vilões. O álcool, com alta de 27,54% neste ano, contribuiu, sozinho, com 0,32 ponto porcentual do IPCA acumulado. A gasolina, com aumento de 4,60%, contribuiu com 0,20 ponto no período.