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Forte no varejo, Clarion quer ser produtora de açúcar

Conhecida por seu tradicional negócio de processamento de soja, a Clarion Agroindustrial se surpreendeu em 2010 com o bom desempenho do negócio de açúcar e álcool em seus resultados. A receita com os derivados da cana representou 25,3% do que a empresa vendeu em 2010. No ano anterior, essa participação tinha sido tímida, de 11%.

De olho na boa rentabilidade do açúcar e no crescimento da demanda, a companhia, que já tem produção própria de etanol, concluiu um projeto para construir uma fábrica de açúcar acoplada à usina de etanol, em Ibaiti (PR). A fase é de captação de recursos e até agosto deste ano a empresa deve definir se constrói a nova planta.

Alexandre Bride, diretor de relações com investidores da Clarion, explica que o desempenho do açúcar, além de surpreendente, ajudou a compensar o resultado menor do carro-chefe da empresa: o farelo de soja.

A receita de açúcar e etanol da Clarion aumentou 23%, de R$ 73 milhões em 2009 para R$ 89,9 milhões em 2010. Enquanto isso, a receita com farelo de soja caiu fortemente, de R$ 376,9 milhões em 2009 para R$ 199 milhões no ano passado. “Os volumes diminuíram, mas o câmbio foi fundamental nesse desempenho inferior. A empresa acabou exportando 37,9% menos em 2010”, disse.

Segundo Bride, as perspectivas para açúcar são positivas, por isso, os planos de construir uma fábrica. Atualmente, a companhia, com capital aberto em bolsa, compra açúcar bruto – o principal fornecedor é a Copersucar – beneficia e embala com três marcas diferentes: Namorado, Clarion e Amoroso. O produto, com coloração mais escura, segundo Bride, agrada sobretudo, aos clientes do Rio de Janeiro. “A marca mais antiga é a Namorado com 20 anos”, completa.

Se for aprovado o projeto da indústria de açúcar, a empresa pretende produzir por ano, pelo menos, 50% de sua demanda pela commodity, segundo Bride, q ue não informou números absolutos da produção prevista. A atual usina da empresa processa 1,3 milhão de toneladas de cana por safra para produção exclusiva de etanol. “Temos a marca Parati de etanol para uso em limpeza. O que sobra é vendido como combustível”, informa.

Com a ampliação, o volume processado de cana deve subir para 2 milhões de toneladas, o que demandará em torno de R$ 150 milhões de investimento, segundo o executivo.

Ele diz que a companhia também estuda ampliar a capacidade de processamento de soja na unidade de Mato Grosso (Cuiabá) de 1,5 milhão de toneladas por mês para 2 milhões de toneladas. “Também estamos na fase de captação dos recursos”, diz.

Por conta do movimento menor em farelo, a empresa fechou 2010 com uma receita bruta de R$ 612,1 milhões, queda de 9,07% em relação aos R$ 673 milhões de 2009.

Na mesma comparação, a empresa registrou prejuízo de R$ 1,19 milhão, ante o lucro de R$ 25,3 milhões de 2009. “A retração foi consequên cia da adoção das novas normas contáveis no balanço da empresa”, diz o diretor.

O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, sigla em inglês) seguiu em alta. A geração de caixa foi de R$ 86,9 milhões em 2010, ante os R$ 66,2 milhões de 2009.

O endividamento líquido atingiu R$ 150,51 milhões em 2010, avanço de 62,2% em relação a 2009. “Esse aumento pode ser explicado pela compra de 80 caminhões, via Finame/BNDES, para a distribuição de nossos produtos, que é feita apenas com transporte próprio”, detalha Bride.

A Clarion foi adquirida em 2002 pelo grupo paulista Manacá, controlado pela família Ferrari. O grupo tem outras seis empresas de menor porte, nas áreas de taxi aéreo e produção de calcário.