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"Forçar o aumento da produção de etanol punindo a de açúcar pode inibir investimentos", diz especialista

A tentativa de tentar forçar o aumento da produção de etanol punindo a de açúcar pode inibir os investimentos no setor sucroenergético. Essa é a opinião de Geraldo Barros, professor titular da USP/Esalq e coordenador científico do Cepea/Esalq/USP.

Segundo ele, no Brasil o preço da gasolina tem sido fixado prolongadamente considerando menos o mercado e mais seu impacto inflacionário. “Dessa forma a distorção é passada ao etanol, cuja produção acaba desestimulada, num momento em que novos investimentos tornam-se cruciais. Some-se a isso o risco de diagnóstico impróprio do governo de tentar sanar problemas estacionais decorrentes de insuficiência de armazenamento com medidas que inibam ainda mais o investimento. É o que se passa quando se tenta forçar um aumento de produção de etanol punindo a produção e a exportação de açúcar”, diz em seu artigo.

Ele deixa claro que do mesmo modo, se a planejada expansão da Petrobras chegar ao ponto de influenciar os preços do etanol, a experiência do que acontece com a gasolina pode aumentar as incertezas e também deslocar potenciais investidores privados.

Em seu artigo, o autor faz uma retrospectiva positiva ressaltando que o setor atende às demandas interna e externa de açúcar a preços decrescentes, contribuindo para o país tanto do ponto de vista alimentar como de divisas. “Quanto ao etanol, é notável sua contribuição para uma matriz energética brasileira mais limpa”, diz.

Hoje, segundo Barros, o preço real do etanol é cerca de 30% a 40% da década de 70. “O preço do açúcar também caiu para menos da metade”, lembra.

Ele atribui esses resultados a produtividade agrícola e industrial em produção de etanol por hectare de cana que duplicou de 1970 para cá. “Ambos procedem da mesma matéria-prima, de modo que observa-se razoável correlação entre seus preços”, completa.

Para o estudioso, o açúcar tem sido uma commodity a mais no conjunto formado por alimentos, energéticos, metais e minérios, em cujas Bolsas os fundos que capturam essa liquidez fazem operações. “Quanto ao etanol, seu preço acompanha as idas e vindas do açúcar, mas de uma forma bem mais suave: em média, apenas 50% das oscilações do preço do açúcar passam para o do etanol”, enfatiza.

Barros diz ainda que no balanço dos últimos 15 anos, a relação de preços entre etanol e açúcar caiu cerca de 60%, ou seja, o barateamento do etanol demonstra também expressiva flexibilidade entre esses preços.