Mercado

Foi coincidência a divulgação de relatórios negativos?

A seqüência de manifestações do presidente e de ministros na defesa do etanol foi uma resposta articulada para rebater uma onda crescente de manifestações para conter o entusiasmo com o combustível alternativo ao petróleo. Segundo o Estado apurou, diplomatas brasileiros na Europa notificaram o presidente Lula, via Itamaraty, sobre uma seqüência de relatórios e declarações que destacariam os riscos ambientais e de segurança alimentar do plantio da cana-de-açúcar.

“Foi coincidência a OCDE e a FAO divulgarem em Paris um relatório negativo para os biocombustíveis na véspera de uma conferência importante sobre o tema em Bruxelas?”, questionou um diplomata.

Na conferência, antes do pronunciamento de Lula, autoridades européias destacaram a necessidade de que o cultivo esteja associado à preservação ambiental. Peter Mandelson, comissário Europeu para o Comércio, destacou em seu discurso que os biocombustíveis “são mais do que uma questão de mercado, de indústria ou de agricultura”. “O desenvolvimento de um mercado deve ser temperado por um mecanismo de proteção ambiental.”

Minutos depois, ainda pela manhã, o presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso também defendeu “mecanismos de sustentabilidade ambiental” para o mercado de biocombustíveis.

Uma das formas com as quais o governo pretende evitar restrições ao produto brasileiro na Europa e nos Estados Unidos será antecipar-se a uma eventual legislação internacional e elaborar uma certificação própria que garanta a procedência e a qualidade do produto feito no Brasil.

Empresários do setor de usinas, entretanto, encaram com cautela a perspectiva de Bruxelas aceitar os padrões estabelecidos pelo governo brasileiro. Segundo um deles, “uma certificação básica é necessária para o processo de tornar o etanol uma commodity negociada nos mercados internacionais”. Mas o excesso de critérios de certificações, seja pelo lado brasileiro, seja pelo europeu, pode ter efeito inverso: “Não somos contra a certificação. Mas o perigo é que a União Européia faça exigências absurdas para tentar mascarar práticas de protecionismo também nesta área”, disse o diretor de uma das maiores usinas do setor no Brasil.

Lula anunciou a realização no Rio de Janeiro de uma conferência internacional sobre biocombustíveis em julho de 2008. “Não por acaso escolhemos o Rio como sede. Segundo ele, o objetivo do governo é que a conferência do Rio “constitua um marco histórico”.