O El Niño deverá ser encerrado até julho próximo. O fim do fenômeno climático traz otimismo para o setor sucroenergético da região Centro-Sul, cuja safra 2016/17 ganhou corpo no começo deste mês, embora algumas unidades seguiram em moagem sem entressafra desde a safra anterior.
O ‘adeus’ do El Ninõ favorecerá a safra de cana-de-açúcar com a geração de clima mais seco entre julho e setembro, considerado o pico da temporada de moagem. “[A estiagem] deverá aumentar o nível de ATR e, dessa forma, as usinas irão produzir mais”, avalia João Paulo Botelho, analista da INTL FCStone.
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Confira a seguir entrevista do analista para o Portal JornalCana.
Portal JornalCana – O fim do El Niño gera otimismo para a safra 16/17?
João Paulo Botelho – Sim. Representado pelo aquecimento anormal das águas superficiais do Oceano Pacífico Equatorial, o fenômeno deverá ser encerrado entre maio e julho próximos. E sem ele o clima ficará mais seco no segundo semestre, o que permitirá uma moagem de cana mais forte.
Qual o saldo negativo do El Niño?
João Paulo Botelho – No Brasil, gerou chuvas acima do normal e em estados canavieiros como Paraná e Mato Grosso Sul a incidência pluviométrica ainda persiste neste mês de começo de safra. Em 2015, ele causou seca muito intensa na entressafra da Índia e da Tailândia. Nesses países de grande produção de açúcar, a safra depende muito das monções (temporadas de chuvas), que devem ser intensas no verão. Mas não foram.
Quais as consequências?
João Paulo Botelho – A Tailândia, por exemplo, acaba de encerrar oficialmente nesta terça-feira (12/04) a safra 15/16 com produção 13,4% abaixo da esperada. Projetava-se quebra, mas inferior a isso. Já na Índia a safra não foi concluída, mas os números de produção indicam quebra já esperada de 6,3%, com 26 milhões de toneladas de açúcar branco. Na safra anterior, a produção chegou a 28,3 milhões de toneladas.
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Diante isso, a previsão déficit mundial de açúcar da INTL FCStone segue em 7 milhões de toneladas?
João Paulo Botelho – Sim, porque mesmo com a quebra de produção nos países asiáticos, as usinas do Centro-Sul brasileiro deverão produzir mais açúcar.
Qual o mix de produção da safra 16/17 estimado pela INTL FCStone?
João Paulo Botelho – Acreditamos em um mix de 55% para o etanol. E isso devido à liquidez proporcionada pelo biocombustível. Muitas companhias sucroenergéticas estão endividadas e dependem da remuneração rápida proporcionada pelo etanol para pagar contas.
Há uma indicação, não confirmada, de que a Petrobras pode vir a reduzir o preço da gasolina. Se isso ocorrer, prejudicará as usinas com queda da remuneração do etanol hidratado. O sr. acredita em mudança do mix de safra caso haja essa redução de preço?
João Paulo Botelho – A queda do preço da gasolina depende do cenário político e do dólar, entre outros fatores. Mas se ocorrer, o mix da safra 16/17 ficará mais açucareiro porque as unidades irão ganhar pouco com o hidratado.
Projeções da INTL FCStone para a safra 16/17 no Centro-Sul:
Moagem de cana-de-açúcar: 619 milhões de toneladas
Produção de açúcar: 34 milhões de toneladas
Produção de etanol hidratado: 17,6 bilhões de litros
Produção de etanol anidro: 10,4 bilhões de litros