A Usinas Itamarati, com sede em Nova Olímpia, a 200 quilômetros de Cuiabá (MT), foi colocada à venda pela proprietária, Ana Cláudia de Moraes, filha do ex-rei da soja e fundador do negócio, o empresário Olacyr de Moraes. Fortemente açucareira e com foco no mercado interno, sobretudo no Centro-Norte do país, a unidade chegou a ser a maior usina do país e foi pega no contrapé da crise de 2008 já com um elevado endividamento.
O banco J.P. Morgan está assessorando a empresa que, antes de bater o martelo na decisão de venda, havia tentado alternativas de capitalização e renegociação de parte das dívidas que chegam a R$ 1,5 bilhão (tributárias, fornecedores e bancos). Termos de confidencialidade começaram a ser assinados nesta semana com potenciais grupos compradores. Mas o que se comenta no mercado é que o ativo não vem despertando o interesse de muitos players, sobretudo, neste momento em que o setor acaba de encerrar uma safra com redução de rentabilidade, pressionado por altos custos e quebra de safra.
O Valor apurou que entre os grupos que vão avaliar o ativo está a Raízen, a maior sucroalcooleira do país. Em 2010, a Itamarati e a Cosan – que ainda não tinha se associado à Shell na Raízen – haviam feito contato inicial que não avançou, pois os controladores da Itamarati ainda resistiam à ideia de vender a usina, até 2004 sob o controle de Olacyr de Moraes. Procurada, a Raízen afirmou que não comentaria rumores de mercado.
A negociação de venda da usina foi confirmada pelo diretor-presidente da Itamarati, o executivo Sylvio Nóbrega Coutinho. Com capacidade industrial para processar 6,3 milhões de toneladas de cana por safra, a Itamarati moeu no ciclo 2011/12 cerca de 4,4 milhões de toneladas. Coutinho diz que devido ao forte plano de renovação de canaviais próprios e de fornecedores (no total, 15 mil hectares), a empresa conseguirá na temporada 2012/13, que começa em abril, processar 5,250 milhões de toneladas. “Vamos seguir plantando cana este ano. No ciclo 2013/14, queremos superar as 6 milhões de toneladas”, afirma Coutinho.
Coutinho diz que apesar da decisão de venda, a empresa tem recursos para tocar a operação. A expectativa é faturar neste ciclo 2011/12 entre R$ 600 milhões e R$ 650 milhões. A Itamarati tem como vantagens competitivas uma espécie de “reserva de mercado” no comércio de açúcar na região Norte. A empresa combina transportes rodoviário e fluvial para chegar a essa região com custos de frete de 30% a 35% mais baixos do que os da concorrência. Com isso, chega a ter market share superior a 80% em cidades como Porto Velho e Ji-Paraná (RO), por exemplo.
Por outro lado, além do endividamento, parte renegociado com alongamento de prazo, a Itamarati tem como desvantagem o fato de estar localizada entre os biomas amazônico e do Pantanal, onde o governo não permite crédito com recursos públicos para expansão de canaviais. Assim, se por um lado ela continuará sem concorrentes, também não poderá expandir-se.