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Fiesp engrossa o coro para reativar Doha

Entidade brasileira assina com outras 18 internacionais declaração pela conclusão da rodada. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) divulgou ontem a assinatura de uma Declaração Conjunta, com outras 18 entidades empresariais internacionais, pedindo a retomada imediata das negociações e a rápida conclusão da Rodada Doha, da Organização Mundial do Comércio (OMC).

O documento, assinado por entidades do Brasil, da Austrália, do Canadá, dos Estados Unidos, da Coréia do Norte, de Taiwan, de Hong Kong e da União Européia – representantes de cerca de 60% do comércio global -, solicita aos países membros a adotarem posições mais flexíveis, a fim de evitar um fracasso que poderá afetar a credibilidade da organização de comércio.

A Rodada Doha, para a liberalização do comércio global, está paralisada desde julho de 2006 em razão da impossibilidade de os países membros chegarem a um consenso, principalmente na área agrícola informa o comunicado que foi entregue aos respectivos governos.

Última janela

“É agora comumente aceito que se as negociações não forem reabertas logo e os elementos essenciais da rodada não forem acordados dentro dos próximos dois a três meses, a última janela de oportunidade para conclusão de Doha pode se fechar”, diz a carta. “O não cumprimento de um acordo provavelmente adiará por muitos anos qualquer possível reabertura de negociações. Além disso, é bem possível que as conseqüências políticas que acompanharem o adiamento possam tornar os membros da OMC relutantes em propor outra rodada de negociações de comércio internacional. E com isso, as ofertas progressivas que estão agora sobre a mesa podem ser perdidas”, acrescenta o documento.

A declaração cita ainda uma estimativa do Banco Mundial (Bird) indicando que a liberalização plena de comércio só em produtos e agricultura pode gerar até US$ 287 bilhões, com os países em desenvolvimento ganhando aproximadamente um terço disso – uma liberalização comparável na área de serviços pode propiciar cinco vezes essa estimativa.

Efeitos negativos

A falta de um acordo comercial no âmbito da OMC, segundo o comunicado da Fiesp, traz pelo menos três conseqüências negativas para o Brasil: a) Coloca em risco o sistema multilateral de comércio que tem mostrado ser relevante para o comércio exterior brasileiro; b) Estimula a proliferação de acordos regionais e bilaterais, que geram desvio de comércio contra os países que estão fora destas redes; e c) Favorece o surgimento de novos contenciosos comerciais.

Na opinião do diretor do diretor adjunto do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Fiesp, Carlos Antonio Cavalcanti, esse documento é mais uma iniciativa entre várias que estão sendo tomadas para a retomada das negociações da Rodada Doha. “Todos os países estão se mobilizando de alguma forma, pois a conclusão de Doha significará em uma ampliação dos acessos aos mercados”, diz ele, citando as várias reuniões ocorridas pontualmente entre os principais negociadores da União Européia e Estados Unidos (os maiores membros da OMC e os responsáveis pelo impasse nas negociações), com o intuito de retomar a rodada.

Apesar de não quantificar os possíveis ganhos com o acordo, Cavalcanti resslta que a indústria brasileira será beneficiada, principalmente a alimentícia (carnes e frangos) e sucroalcooleira (açúcar e álcool), assim como a têxtil e calçadista, as que têm perdido mais espaço no exterior nos últimos anos. “Ao contrário do que se imagina, com Doha, o Brasil ampliará mercado para as exportações de produtos industrializados e não somente de produtos agrícolas propriamente ditos, como soja, folha de fumo e café, nossas principais commodities”, afirma.

“Aliás, há uma confusão em relação a isso e a maioria dos sindicatos que seriam beneficiados com a queda de barreiras tarifárias e não tarifárias fazem parte da Fiesp”, acrescenta.

kicker: Um acordo na OMC precisa ser fechado em dois ou três meses para evitar fracasso das negociações, diz o documento

kicker2: Para a Fiesp, o Brasil deverá sofrer algumas conseqüências negativas sem um acordo na organização, como novos contenciosos