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Fiesp discute estratégias de descarbonização em reunião de desenvolvimento sustentável

Parceria com a FHC visa coletar subsídios para as discussões relacionadas aos temas de economia verde, descarbonização e reindustrialização

(Divulgação Fiesp)
(Divulgação Fiesp)

A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) realizou, na quarta-feira (17), uma reunião conjunta do Conselho Superior de Desenvolvimento Sustentável (Condes) e do Departamento de Desenvolvimento Sustentável (DDS). O tema central do encontro foi “As Oportunidades da Descarbonização para a Indústria Brasileira”. O evento reuniu diversos especialistas, empresários e representantes do governo para discutir o papel crucial da descarbonização na reindustrialização do Brasil.

Dan Ioschpe, 2º vice-presidente da Fiesp, abriu o evento destacando a relevância da descarbonização no processo de reindustrialização do Brasil. “É um tema transversal que cruza com todos os planos e projetos para o crescimento e recuperação da nossa indústria”, afirmou Ioschpe. Ele enfatizou que a transição para uma economia de baixo carbono não é apenas uma necessidade ambiental, mas uma oportunidade estratégica para impulsionar a competitividade e a inovação na indústria brasileira.

Kalil Cury Filho, diretor titular adjunto do DDS, ressaltou que as pautas prioritárias incluem as questões climáticas e a transição para uma economia de baixo carbono. Ele mencionou a importância da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP-30), que ocorrerá em Belém (PA), como um marco para essas discussões. “Estamos trabalhando para alinhar nossas ações com as metas globais e aproveitar a COP-30 como uma plataforma para demonstrar o compromisso do Brasil com a sustentabilidade”, afirmou Cury.

A Fiesp firmou um termo de parceria com a Fundação Fernando Henrique Cardoso (FHC) para coletar subsídios e enriquecer as discussões sobre economia verde, descarbonização e reindustrialização. Fausto, representante da FHC, afirmou que o objetivo é oferecer contribuições e formar opiniões sobre esses temas.

“Nosso papel é de oferecer uma contribuição para que a Fiesp possa, entre várias outras contribuições, formar opiniões sobre o assunto dentre as suas várias facetas. O trabalho tem o mérito de mostrar restrições e apontar alguns caminhos sem pretensão de definir propostas”, disse Fausto.

Pedro Motta da Veiga e Sandra Polónia Rios, diretores do Centro de Integração e Desenvolvimento (Cindes), conduziram a apresentação principal. Motta da Veiga destacou que o setor industrial brasileiro, até então, estava afastado das prioridades de política de mitigação climática, que se concentravam no desmatamento. Ele enfatizou a necessidade de envolver outros setores na descarbonização para cumprir as metas da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) de 2030.

“A redução do desmatamento é crucial, mas não será suficiente. Precisamos integrar a indústria nesse esforço para alcançar nossas ambições climáticas”, explicou Motta da Veiga.

Desafios e potenciais conflitos

O estudo apresentado apontou potenciais conflitos entre políticas industriais e climáticas, destacando dois nexos principais:

Reconversão ou Modernização Verde: Adotar processos produtivos e tecnologias menos intensivas em emissões. “A modernização verde é essencial para garantir que a indústria brasileira se mantenha competitiva em um cenário global cada vez mais orientado para a sustentabilidade”, afirmou Sandra Polónia Rios.

Diversificação Verde: Direcionar a estrutura industrial para produtos verdes, como bens de capital utilizados na reconversão verde. “A diversificação verde é uma estratégia fundamental para reduzir nossa dependência de setores tradicionais e posicionar o Brasil como líder na produção de tecnologias sustentáveis”, acrescentou Motta da Veiga.

Motta Veiga mencionou iniciativas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) de apoio a investimentos industriais verdes. Ele também falou sobre a política de incentivos para o setor automotivo, incorporando critérios relacionados às emissões dos veículos e aumentando tarifas de importação para veículos elétricos, painéis solares e turbinas elétricas.

“Essas políticas são passos importantes, mas precisamos de um esforço coordenado para criar um ambiente regulatório que realmente incentive a inovação e o investimento em tecnologias verdes”, disse Motta da Veiga.

O estudo questionou se uma política industrial verde é viável no Brasil, considerando as limitações de recursos e espaço fiscal. No entanto, destacou as vantagens comparativas do país em termos de recursos naturais e a rede de empresas e instituições de pesquisa desenvolvidas para explorar esses recursos. “Temos um potencial enorme, mas precisamos de políticas claras e uma visão estratégica para transformar esse potencial em realidade”, afirmou Kalil Cury.

Na conclusão, Pedro Motta da Veiga sublinhou três grandes desafios para o Brasil: evoluir para uma matriz energética mais limpa, expandir a oferta de produtos verdes e criar um ambiente regulatório que favoreça preços competitivos. Dan Ioschpe fechou os debates reforçando a necessidade de regulamentação rápida e de diálogo com o mercado internacional para transformar o potencial sustentável do Brasil em atividade econômica concreta.

“É inegável o nosso potencial sustentável, somos privilegiados por questões da natureza, como o clima, o solo, a costa marítima, mas tudo isso por si só não vai nos levar a lugar nenhum”, disse Ioschpe. Ele enfatizou que, para transformar esse potencial em realidade econômica, é crucial avançar na regulamentação e engajar-se com parceiros globais.

“Precisamos, como país, avançar na regulamentação o mais rápido possível, e conversar com o resto do mundo, sob pena de não transformar esse discurso num potencial econômico e que gere atividade”, finalizou.

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