Mercado

Feijão se tecnifica e recupera áreas

O feijão, uma das lavouras mais tradicionais da agricultura paulista, resiste ao avanço da cana-de-açúcar, faz frente à competição de commodities como soja, milho e trigo, e recupera áreas de plantio que havia perdido no interior de São Paulo.

A safra paulista de 2008 foi de 169.200 hectares, 10 mil hectares a mais do que a anterior, segundo o Instituto de Economia Agrícola (IEA-Apta) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. A produção, de 5,2 milhões de sacas de 60 quilos, cresceu 12% em relação a 2007.

A oleaginosa, durante muitos anos tida como lavoura de pouca tecnologia, altamente dependente da mão de obra do chamado bóia-fria, acabou se beneficiando do avanço tecnológico trazido pelo cultivo de outros grãos, sobretudo a soja. Hoje, no sudoeste paulista, do plantio à colheita, o cultivo do feijão é todo mecanizado.

Plantio direto

A maioria das lavouras usa o sistema de plantio direto sobre a palha e já é comum encontrar grandes áreas irrigadas. Investimentos em pesquisa resultaram em cultivares resistentes às doenças – um dos principais problemas da cultura -, mais produtivos e cada vez mais atraentes para o consumidor final.

No dia 18 de março, durante um dia de campo organizado pela secretaria, em Capão Bonito, no sudoeste, pesquisadores do Instituto Agronômico (IAC-Apta) apresentaram seis novos cultivares, entre eles um substituto para o tradicional feijão carioca pérola, que cobre 80% da área plantada no Estado. Trata-se do carioca alvorada, que tem a cor e a forma do pérola, mas incorporou vantagens genéticas, de acordo com o pesquisador do instituto Sérgio Augusto Carbonell.

Antracnose

A principal delas é ser mais resistente à antracnose, uma das doenças mais graves do feijoeiro. Com isso, exige um número menor de aplicação de defensivos, com redução no custo de produção e ganho ambiental.

Há outras melhorias, segundo o pesquisador do IAC. “O grão é um pouco mais cheio e se expande na panela, dando excelente rendimento. É um feijão bem claro, que resiste mais ao escurecimento. Além disso, cozinha em menos tempo.”

No beneficiamento, o alvorada dá um aproveitamento de 96%, enquanto o pérola atinge 88%. De acordo com Carbonell, o mercado já reconhece essas vantagens. “O produtor tem recebido até 10% a mais por saca do alvorada.” A produtividade é equivalente – média potencial de 4,5 toneladas por hectare – mas o feijoeiro do novo cultivar é mais ereto, facilitando a colheita com máquinas. É também mais precoce, podendo ser colhido até dez dias antes.

Ele alerta, no entanto, que o cultivar é exigente em tecnologia e solo descontaminado do fungo Fusarium. “Nas terras menos férteis e com a presença do fungo é preferível continuar com o pérola”, diz o pesquisador do IAC. (José Maria Tomazela)