As usinas de açúcar e álcool do Brasil devem encerrar a safra 2006/07 (de maio a abril) com um faturamento da ordem de R$ 34 bilhões (livre de impostos), segundo dados da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica). Se confirmadas as estimativas, será um crescimento de 10% sobre o ciclo anterior.
Nesses cálculos está incluída a comercialização de açúcar e do álcool nos mercados interno e externo, afirma Antonio de Padua Rodrigues, diretor técnico da Unica.
Segundo Padua, as recentes quedas das cotações no mercado internacional, que desde maio – início da colheita no centro-sul – acumulam desvalorização de 25%, não devem afetar o desempenho das vendas e nem devem inibir os investimentos já anunciados pelo setor sucroalcooleiro. “Boa parte das usinas está com 70% de suas vendas de açúcar comprometidos”, afirma.
O maior volume de produção também deve colaborar para o bom desempenho do setor. Nesta safra, a 2006/07, o Brasil deverá processar 412,19 milhões de toneladas de cana, volume 6,6% maior na comparação com a safra passada. A produção de açúcar no país atingirá 29,2 milhões de toneladas, 12,3% maior sobre 2005/06, e a de álcool deve ser de 16,73 bilhões de litros, volume 5,1% maior que no ciclo anterior, de acordo com estimativas da consultoria Datagro.
No primeiro semestre deste ano, as cotações do açúcar em Nova York chegaram a bater 19,26 centavos de dólar por libra-peso (para os contratos de segunda posição), mas nos últimos meses, a partir de maio, começaram a cair por conta da expectativa de recuperação de safra de importantes países produtores de açúcar, como Índia e Tailândia, o que deverá gerar um equilíbrio entre a oferta e demanda.
Segundo Júlio Maria Martins Borges, da Job Economia e Planejamento, as cotações do açúcar devem se estabilizar entre 13 centavos e 14 centavos de dólar por libra-peso nesta safra. Ontem, os contratos para março encerraram a 13,11 centavos de dólar por libra-peso, em Nova York. Neste ano, as cotações já acumulam queda de 11,1%. Nos últimos 12 meses, a valorização é de 32,3%. “Não há mais aquela expectativa de que os preços do açúcar voltem a disparar no mercado internacional. Isso só ocorrerá, se houver uma quebra de safra em algum país ou uma mudança abrupta de clima.”
No mercado interno, a queda dos preços do açúcar também é significativa. Ontem, a saca de 50 quilos fechou a R$ 41,53, em São Paulo, segundo o índice Cepea/Esalq. Neste ano, já acumula queda de quase 9%. Desde o início de maio, os preços caíram 16,3%.
Levantamento da Unica mostra que o Brasil, maior produtor mundial de açúcar, continua competitivo, mesmo que as cotações recuem um pouco mais, entre 11 e 12 centavos de dólar, por conta dos baixos custos de produção do mundo. “Os investimentos anunciados em 90 projetos de expansão e de novas usinas não deixarão de ser efetivados”, diz Padua. Dos US$ 13 bilhões de investimentos projetados até 2010, cerca de US$ 5 bilhões começaram a ser executados.
Analistas ouvidos pelo Valor afirmaram que a queda dos preços do açúcar não é necessariamente ruim para o setor sucroalcooleiro do país. “O cenário ideal seria um dólar mais valorizado sobre o real com os preços da commodity nos patamares atuais”, afirma uma fonte.
Para o álcool, os preços também devem continuar atraentes, mesmo com a interrupção do forte movimento de alta dos preços do petróleo. “Mas os atuais patamares de preços já sustentam as cotações do combustível nos mercados interno e externo.”
No mercado, a preocupação é se os elevados volumes embarcados nesta safra devem comprometer o abastecimento interno. Ângelo Bressan, diretor de Cana e Agroenergia do Ministério da Agricultura, afirma que a queda do consumo no mercado interno, provocado pelo aumento dos preços do combustível nas bombas, e a redução da mistura do álcool na gasolina ajudaram a equilibrar a oferta.