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Famigliare transforma herdeiro em acionista

São Paulo, Consultoria aposta na governança familiar como novo nicho de prestação de serviços. As práticas para a sustentabilidade corporativa têm deixado a condição de tímidos projetos e ganhando cada vez mais envergadura. Nesse novo cenário um grande universo de serviços começa a ter demanda certa, como o de governança familiar. Relatos recentes de três sobrenomes de vulto no mercado empresarial podem ser alocados como exemplo.

Carla Fontana, filha de Attilio Fontana, fundador da Sadia, conta que de uns tempos para cá sempre que participava de algum evento “muita gente lhe perguntava o que a Sadia fazia que dava tão certo em termos de soluções familiares”. O mesmo acontecia com outras herdeiras como Katia Cristina de Rezende Barbosa, do Grupo Nova América (mais conhecido pela marca Açúcar União) e Priscilla Mello, da Samello, a conhecida indústria de calçados, fundada na cidade de Franca, no interior de São Paulo, por seu bisavô.

As herdeiras costumavam se encontrar em seminários de governança e de conversa em conversa perceberam que estavam dando muita consultoria de graça. Um belo dia, quando participavam de um evento promovido pela Fundação Getulio Vargas, decidiram resolver o problema “de trabalhar de graça”: fundaram a consultoria Famigliare, especializada em ajudar as famílias e a transformar herdeiros em acionistas. Antes é claro haviam se preparado para serem bem sucedias: as três fizeram cursos de especialização em governança familiar no exterior.

Para dar uma idéia do serviço prestado pela Famigliare vale dar uma espiada no trabalho desenvolvido pelas agora sócias com suas próprias famílias. Carla Fontana – que apesar de ser da segunda geração da Sadia (irmã de Omar Fontana) tem a idade da terceira geração – começou a praticar governança familiar lá pelos idos de 1992. Fez especialização em Family Business e Family Office. Implantou o conselho de família para se reportar ao conselho de administração da empresa e evitar que questões do âmbito familiar acabassem misturadas com as da empresa. A iniciativa foi muito produtiva e Carla foi além. Há quatro anos iniciou o trabalho de formação de acionistas da quarta geração. Criou um familly office da Sadia para a educação dos herdeiros acionistas. Fundou também um comitê de responsabilidades para integrar as pessoas das próximas gerações da família. Além disso, mudou a atuação do trabalho beneficente realizado pela família. “Percebemos que não adiantava apenas dar o dinheiro era preciso contribuir também para que ele fosse bem administrado e com isso cumpra sua função social e passamos a fazê-lo”, afirma Carla.

Priscilla Mello, representante da quarta geração de uma família que atualmente com 14 membros, entrou na Samello depois que o bisavô Miguel Sabino de Mello, que era um líder empreendedor, faleceu. Priscilla se formou em gestão empresarial pelo ITA e Escolha Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), com vários cursos de especialização em governança. Aproveitou sua experiência para montar um conselho de família o que ajudou a fazer a sucessão na empresa sem brigas familiares. Atualmente a Samello está vivendo um processo complicado por causa da competição da China no mercado calçadista. Mas, na família está tudo bem, diz ela. Entre as possíveis soluções para empresa estão desde abrir o capital até fazer uma parceira.

Katia Rezende Barbosa – que é graduada em psicologia na Unesp com especialização em Family Business e entrou para a família da Nova América em 1990 – conta que a empresa estava preocupada com os herdeiros. Usando seus conhecimentos de psicologia detectou a necessidade de fazer reuniões familiares. A família nunca tinha conversado sobre a relação família/empresa e com as reuniões foi possível saber o que cada um esperava. A partir daí fizemos um acordo de acionistas envolvendo as 18 pessoas da familia, conta. ” Foi feito ainda um acordo de cunhadas na qual todas ficaram com uma participação igual na empresa.” Em paralelo foi criado um conselho de família para preparar os futuros herdeiros, que estão na faixa de 17 a 32 anos para, serem acionistas. “A partir dos 14 anos eles já participam de reuniões para se preparar para ser acionista”, conta Katia. Agora estão finalizando o Projeto Estrela da 3 geração, que prevê a criação de negócios para na área de responsabilidade social para os mais jovens começarem a aprender a administrar. “Um acionista bem educado vai agregar mais valor para a empresa”, acrescenta.

As experiências mostraram às herdeiras que a comunicação era o ponto mais sensível a ser “atacado” pela governança familiar, que definem como um processo de organização da família, com canais corretos de comunicação para atuar diante da gestão da empresa. O trabalho da consultoria consiste em criar foruns para discutir as questões da família e evitar que problemas familiares acabem indo parar no conselho de administração, o que não é saudável para o negócio e pode acaba em destruição da empresa. Outro problema comum é de mentalidade. Em geral, a família acha que a empresa está a seu serviço. Mas isso não é realidade se ela quiser crescer e se multiplicar. Para isso precisa transformar herdeiros em acionistas.