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Falta de crédito dificulta retomada das empresas

Diante de uma conjuntura adversa para todo o segmento sucroalcooleiro, as empresas que estão em recuperação judicial veem suas dificuldades serem aprofundadas na medida em que têm o agravante de não ter acesso a crédito e registrarem, portanto, um baixo nível de investimento operacional com a mesma carga tributária de uma empresa sadia.

Atualmente com faturamento bruto de R$ 200 milhões e endividamento de R$ 238 milhões (sem contar os débitos tributários), a Usina Campestre, de Penápolis (SP), entrou em recuperação judicial em dezembro de 2009. Desde então, segundo o CEO da empresa, José Carlos Fernandes de Alcântara, paga em dia as dívidas acordadas no plano, assim como as despesas correntes, inclusive os impostos. Do começo do plano até agora, a geração de caixa foi destinada para pagamento de R$ 15 milhões em débitos passados e R$ 61 milhões em impostos correntes.

De acordo com o CEO da Campestre, as dívidas trabalhistas foram quitadas, com exceção da existente com o FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço), que foi parcelada e, segundo ele, está sendo paga em dia. Todos os credores com débitos de até R$ 10 mil também foram pagos, além dos fornecedores de cana, que já receberam R$ 7 milhões – e ainda têm R$ 94 milhões a receber.

Ao fim desta safra, em março de 2013, a Campestre terá pago R$ 23 milhões a seus credores, menos de 10% da dívida total. “É preciso lembrar que temos despesas operacionais. Somente com manutenção na entressafra serão R$ 10 milhões”, exemplifica Alcântara.

A empresa ainda tem débitos tributários contraídos antes do pedido de proteção judicial. São R$ 161 milhões de encargos federais (repactuados via Refis) e um valor ainda maior de estaduais, que estão sendo questionados na Justiça.

A Campestre, que em seu auge processou 2,7 milhões de toneladas de cana, deve moer no atual ciclo 1,65 milhão de toneladas. Trata-se de alguma recuperação ante as 1,1 milhão processadas em 2011/12 e as 1,38 milhão de toneladas de 2010/11. “Muitos parceiros voltaram a nos fornecer a matéria-prima”, afirma Alcântara.

A contragosto dos credores, o grupo Naoum, cujas usinas estão em recuperação judicial desde o início de 2009, deve pedir à Justiça a venda de alguns ativos para se capitalizar e reduzir a pressão sobre o fluxo de caixa. A empresa não vem fazendo os investimentos necessários em canaviais e, neste ciclo, uma de suas três usinas paralisou a moagem por falta de cana.

“Tentamos aprovar a desmobilização de ativos, mas os credores não aceitaram. Faremos o pedido via Justiça”, afirma o advogado do grupo, Sérgio Emerenciano. Segundo ele, o aperto veio da queda dos preços do açúcar e do etanol e dos aumento dos custos. “Estimamos, com isso, uma receita 15% menor”, diz Emerenciano.

Entre os ativos que podem ser colocados à venda estão aqueles não estratégicos, como terrenos, mas também a própria unidade de Jaciara (MT), que não está moendo cana nesta safra.

As duas usinas do grupo Naoum em operação (em Mato Grosso e Goiás) devem processar, juntas, 2,9 milhões de toneladas de cana, de 10% a 15% menos do que o realizado no ciclo passado. “O grupo chegou a processar 4 milhões de toneladas de cana”, lembra o advogado. Até o momento, a empresa pagou a credores R$ 120 milhões, com recursos da própria operação. Ainda deve R$ 290 milhões, valor que não inclui tributos.

A Companhia Albertina, localizada em Sertãozinho (SP), também deixou de operar neste ciclo. Em recuperação judicial desde 2008, a unidade apenas manteve cultivo agrícola e repassou à Biosev (Louis Dreyfus) o direito de assumir 8 mil hectares em contratos de arrendamento de cana. (FB)