Mercado

Fabricantes esperam regulamentação do Modercarga

As montadoras ainda aguardam a regulamentação do Programa de Modernização da Frota de Caminhões (Modercarga) para avaliar se o novo mecanismo de financiamento contribuirá para aumentar as vendas do setor. Mas já há entre os fabricantes quem duvide que o programa irá deslanchar em 2004. Anunciado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em dezembro, o Modercarga não entrou em operação pois ainda depende de aprovação pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que se reúne em 29 de janeiro.

Existe, porém, a possibilidade do CMN tratar o tema em convocação extraordinária antes do fim do mês. Carlos Gastaldoni, secretário de desenvolvimento da produção do Ministério do Desenvolvimento, confirmou ao Valor que está tudo acertado para o início do programa, faltando a aprovação pelo CMN. Segundo ele, o assunto já foi discutido pela diretoria do BNDES, responsável pela operação do programa.

Após a aprovação pelo CMN, o banco deverá enviar cartas-circulares aos agentes financeiros, informando-os sobre as condições de operação do Modercarga. O programa irá financiar caminhões novos e usados, reboques, semi-reboques, chassis e carrocerias para pessoas físicas (autônomos) e micro, pequenas e médias empresas com juros fixos de 17% ao ano. O fato do banco vir a operar um programa com taxas de juros fixas é que exigiu a aprovação pelo CMN.

O spread do agente financeiro será de 4%. Em cada empréstimo, o BNDES irá cobrar ainda uma taxa flat de 4% para se prevenir de eventuais aumentos da TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo) ao longo do prazo de pagamento dos empréstimos, que é de 60 meses. A medida é importante porque o banco capta em TJLP, que é variável, e empresta a juros fixos no programa.

O diretor-geral da Scania no Brasil, Cristopher Podgorski, mostra-se cauteloso em relação aos possíveis benefícios do Modercarga em 2004. “O importante é que uma vez regulamentado o programa se torne um instrumento efetivo para incluir os autônomos e os pequenos transportadores, que não têm acesso a crédito.” Ele estima um crescimento de 10% a 15% nas vendas de caminhões pesados da montadora (acima de 16 toneladas de carga) em 2004 na comparação com 2003. O mercado, segundo ele, deve crescer cerca de 6% este ano.

Podgorski também previu que em função das regulamentações e da curva de aprendizado necessária o Modercarga poderá não deslanchar até meados deste ano. “O programa deve começar com poucas operações para ir aumentando de forma gradativa”, estimou. Paulo Sotero, diretor-executivo da Anfavea afirmou que será preciso esperar pelo detalhamento do programa para saber como irá operar.

Sotero reconheceu, porém, que a expectativa para o setor de caminhões é positiva em função das tendências de recuperação da economia neste ano.

Ao anunciar o programa, Lula disse que o Modercarga contará com R$ 2 bilhões em 12 meses, oriundos do FAT, que permitirão a venda de 20 mil caminhões novos e usados. Cerca de 30% do montante total se destinarão ao financiamento de caminhões usados.

O presidente da Associação Nacional do Transporte de Cargas (NTC), Geraldo Aguiar de Brito Vianna, criticou o programa: “Do jeito que saiu, o Modercarga foi uma decepção.” Ele colocou em dúvida que o programa consiga reduzir a idade média da frota de caminhões de 18 para 10 anos, conforme divulgado.