O tripé velocidade-equilíbrio-resistência continuará soberano. Mas a pré-temporada da F-1, que começou ontem em Barcelona, apresentará à categoria um quarto elemento, inovador, que vai contra o histórico do esporte, mas que se mostra inevitável. A preocupação com o ambiente.
Depois de perder uma longa queda de braço com o lobby antitabagista, a F-1 enfrenta agora um novo adversário, as restrições cada vez mais rigorosas de países do mundo todo à emissão de poluentes. Pressionadas por suas donas e parceiras -as multinacionais montadoras de automóveis-, as escuderias já começam a atuar como base para criação e desenvolvimento de tecnologias verdes.
“Pode parecer irônico, mas hoje o maior potencial de influência da F-1 na produção de carros de passeio é no desenvolvimento de motores mais econômicos, principalmente por questões ambientais”, disse Nick Fry, presidente da equipe Honda, que começa a testar amanhã na pista espanhola.
Para ele, a situação chegará a um ponto em que a FIA (entidade máxima do automobilismo) terá que lançar uma categoria especial só para combustíveis “limpos”.
“A indústria percebeu que as imposições feitas pelos governos mundo afora já eram objetivos da F-1 há anos e que poderíamos contribuir para esse desenvolvimento de tecnologia”, completou.
A ironia citada pelo inglês está no fato de a categoria, historicamente, viver às margens do politicamente correto. Exemplo clássico é a McLaren, que, forçada a largar o dinheiro do cigarro, correrá em 2006 com uma marca de uísque como maior patrocinadora.
Mas há outra questão: a emissão de poluentes da própria categoria.
Um carro de F-1 faz, em média, 1,3 km/l. Para efeito de comparação, um Gol 1.6 roda 16,8 km com um litro de gasolina na estrada. O resultado é que, a cada fim de semana de GP, um time queima cerca de 1.300 litros do combustível.
O problema já está na pauta de discussões da Fofap, o grupo que reúne as petroleiras no Mundial.
“Estamos estudando a utilização de biocombustível em mistura com a gasolina. Para nós, isso seria ótimo, já que temos a experiência da mistura com álcool no Brasil”, disse Rogério Gonçalves, engenheiro da Petrobras, que desde 98 é fornecedora da Williams.
Prévia do que pode vir por aí, a gasolina usada hoje na F-1 já apresenta um baixíssimo grau de enxofre em sua composição: 10 ppm (partes por milhão). A gasolina vendida nos postos do país tem 1.000 ppm (parte por milhão) de enxofre, enquanto a americana leva 90 ppm e a européia, 50 ppm.